São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Dom Paulo e o aborto

É no mínimo corajosa a atitude do arcebispo de São Paulo, dom Paulo cardeal Arns, de defender o não-desenvolvimento da gravidez nos casos de estupro. Atualmente, tramita no Congresso um hediondo projeto que visa a eliminar os dois únicos pontos positivos de uma lei de aborto já arcaica.
Em que pese a "insubordinação" do cardeal diante da posição oficial do Vaticano -contrário ao aborto mesmo que à custa da vida da mãe-, há de se convir que um pouco de contestação, ainda que extremamente comedida como foi a de dom Paulo, pode ser saudável até mesmo para uma instituição como a Igreja Católica.
Ainda que se reconheça que o catolicismo não é compulsório, e quem quiser comungar dessa fé deve seguir as regras por ela firmadas, tais como obediência ao papa e às diretrizes do bispo de Roma, um pouco de oposição civilizada e construtiva como a de dom Paulo por certo contribui para a própria evolução da igreja.
O catolicismo como existe hoje não nasceu pronto, muito pelo contrário. Desde a morte de Jesus Cristo até a consolidação da igreja mais ou menos como é hoje transcorreram-se séculos. Debateu-se sobre praticamente tudo -se Deus, o Espírito Santo e Cristo poderiam ser uma única entidade ou não, por exemplo-, muitas "heresias" foram combatidas a mão de ferro, toda uma teologia e um corpo doutrinário foram-se firmando. Basta lembrar que a proibição do casamento para clérigos católicos é um fenômeno que data da Idade Média e não do cristianismo primitivo.
Atitudes como a de dom Paulo de crítica à posição oficial num tom bastante moderado e construtivo podem ser extremamente benéficas para o catolicismo, que hoje vive uma profunda crise e vem perdendo fiéis para seitas de caráter bastante duvidoso, como a Igreja Universal do Reino de Deus.

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