São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saque nos fundos cresce e bancos pedem mudança

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Assustados com a fuga estimada de R$ 3,5 bilhões das aplicações financeiras desde novembro, os bancos começaram a fazer lobby para o Banco Central reformular, mais uma vez, as regras dos fundos de investimento financeiro.
A rentabilidade dos novos fundos de curto prazo, criados a partir de outubro, é tão ruim que o dinheiro extra dos correntistas (como o 13º salário) está indo todo para as contas correntes, para o pagamento de dívidas ou para o consumo.
Quem reclama é Alfredo Neves Penteado de Moraes, diretor da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento) e membro da diretoria da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
Segundo ele, o governo tentou induzir os aplicadores ao alongamento dos investimentos, criando fundos tanto mais rentáveis quanto maior o prazo de carência (período sem saques). Mas o efeito final foi desastroso, diz Moraes.
"O alongamento não veio e o sistema está perdendo investimentos. Ainda não chegamos a um nível de depósitos inferior à média histórica dos fundos, de R$ 40 bilhões, mas não sabemos quando os saques vão parar", afirma.
Os fundos de curto prazo, que permitem saques diários, rendem em torno de 50% da taxa do CDI (depósitos entre instituições financeiras). Isso equivale a juros mensais de 1,2% brutos, em média -ou minguados R$ 1,20 para cada R$ 100,00 depositados por 30 dias. Com imposto, cai a R$ 1,08.
O rendimento é baixo devido ao depósito compulsório não-remunerado incidente sobre esses fundos, de 40% do patrimônio. Nos fundos de 60 dias, que não têm compulsório, o rendimento dobra (100% ou mais do CDI).
"Como os investidores acham que não vale a pena deixar o dinheiro em trânsito nos fundos de curto prazo, e 60 dias é um prazo muito longo, os fundos não pegaram", diz Moraes.
Os bancos, portanto, esperam que o governo altere as regras novamente. Segundo Moraes, o assunto foi tratado num jantar oferecido recentemente pelos bancos à cúpula do BC, que mostrou-se receptivo à queixa.
Cláudio Ness Mauch, diretor de Normas do BC, nega que esteja estudando eventuais mudanças. O processo de alongamento é lento e gradual e o governo não esperava outro comportamento dos investidores, afirmou Mauch através da assessoria de imprensa do BC.
"Isso é lobby, não estamos prevendo nenhuma modificação nos novos fundos", disse um funcionário graduado do BC.
Ele explica o motivo da queixa: os depósitos à vista sofrem compulsório de 80%, e os fundos de curto prazo, de 40%. Se os investidores deixam o dinheiro parado na conta corrente, o prejuízo para os bancos é maior, avalia.
Além de baixar o compulsório, os bancos querem acabar com a carência rotativa dos fundos, isto é, a exigência de que o dinheiro fique depositado por períodos sucessivos de 30 ou 60 dias.
Nos Estados Unidos, há carências iniciais nos fundos mútuos, mas depois disso a movimentação é livre, comenta Roberto Parenti, diretor técnico do Bradesco.
"Não acho que o alongamento fracassou, mas creio que os novos fundos deveriam ter mais liberdade de carência", diz Parenti.
No dia 20, os fundos de curto prazo tinham patrimônio de R$ 13,1 bilhões. Os de renda fixa de 30 dias, R$ 1,3 bilhão, segundo a Anbid.

Texto Anterior: O presente que o Brasil ganhou
Próximo Texto: Bancos investem em análise setorial
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.