São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Fundo da Vasp sofre intervenção

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Previdência e Assistência Social, Reinhold Stephanes, decretou intervenção por seis meses no fundo de pensão dos funcionários da Vasp, o Aeros.
A principal causa da intervenção é a suspeita de irregularidades na administração dos recursos do fundo. A entidade vinha sendo administrada pelo banco GNPP, do Rio de Janeiro, liquidado pelo Banco Central no dia 5 deste mês.
O ex-presidente do Banco do Brasil, Camilo Calazans de Magalhães, foi nomeado interventor do fundo Aeros. Ele disse à Folha que ainda hoje será nomeada uma comissão de inquérito para apurar as suspeitas de irregularidades.
"Há indícios de que há muita coisa errada", disse Calazans. O Aeros, que funciona em São Paulo, tem 2.774 associados e patrimônio de cerca de R$ 90 milhões.
O banco GNPP tinha um contrato com o Aeros para administrar a aplicação dos recursos destinados à complementação de aposentadoria dos empregados da Vasp.
Em função deste contrato, Fernando Antônio Nuñez, vice-presidente executivo do GNPP, exercia também o cargo de presidente do Aeros.
Nesta dupla função, há suspeitas de que ele tenha beneficiado o banco. Ele foi destituído ontem da presidência do Aeros e em sua casa, no Rio de Janeiro, a informação é de que ele está viajando.
Nem o interventor nem o governo sabem qual é a exata situação financeira do fundo pois desde setembro o GNPP deixou de enviar os relatórios mensais sobre o andamento das aplicações.
Entre as operações que serão investigadas pela comissão de inquérito está o investimento de R$ 6,1 milhões em cotas de um condomínio imobiliário em Maricá (litoral norte do Rio de Janeiro).
O GNPP comprou, em nome do Aeros, 95% das cotas do empreendimento. O investimento provocou suspeitas porque o GNPP era também o incorporador do projeto imobiliário.
Além desse fato, há informações de que o GNPP aplicava recursos do Aeros no próprio banco, o que deixaria o fundo na situação desconfortável de credor de um banco em liquidação.
Segundo informações preliminares dos auditores, havia perto de R$ 8 milhões do Aeros aplicados no GNPP no momento em que o banco foi liquidado.
Fernando Nuñez já foi notificado judicialmente pelo Aeros para entregar os relatórios das aplicações financeiras. O advogado Arnoldo Wald, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi contratado para representar o Aeros na Justiça.
O Aeros já havia sofrido um intervenção em 1992. Na época, a Vasp -principal patrocinado da entidade de previdência- deixou de repassar o equivalente a US$ 33 milhões para o fundo.

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