São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Tese sobre aborto não assusta Vaticano

FREDRIK THOMASSON
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM ROMA

A possibilidade de tratamento abortivo em casos de estupro, defendida pelo cardeal arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, não perturbou a usual discrição do Vaticano em relação aos defensores de idéias menos ortodoxas na Igreja Católica.
O Vaticano e o jornal "L'Osservatore Romano", órgão oficial da Igreja Católica, não se manifestaram publicamente sobre as declarações do cardeal. D. Paulo deu essas declarações na última quinta-feira.
"O conselho que devemos dar a uma moça estuprada é: vá ao ginecologista e faça o tratamento. Não espere a criança se formar em seu seio", afirmou. Depois, negou ter defendido o aborto. Disse que se referia a uma lavagem uterina.
O único a comentar o fato foi o cardeal Angelini, um dos responsáveis pela política de saúde do Vaticano, no jornal italiano "La Repubblica".
"Se é verdade aquilo que escrevem os jornais brasileiros e que as agências internacionais divulgam, deve ser lembrado que nunca o aborto deve ser consentido, mesmo depois de atos de violência porque, como ensina o Santo Pai, aquilo que é concebido no ventre materno é uma vida inocente que deve ser sempre tutelada", disse.
O padre Gino Concetti, teólogo do "L'Osservatore Romano", se manifestou com menor severidade. Primeiro perguntou se as declarações foram realmente bem traduzidas, depois declarou: "O cardeal Arns não fala explicitamente do aborto. Diz que a mulher estuprada deve recorrer imediatamente a um médico para tratar-se. Todos sabem que a fecundação pode ocorrer várias horas depois do coito".
"Se o tratamento ocorre antes que se conceba uma nova vida, não pode ser definido como aborto", disse. Para ele, "outra coisa importante é a vontade da mulher, não de abortar, mas de ser tratada. Para a Igreja, as intenções são muito importantes".
Na Itália, se debate atualmente a inclusão da educação sexual nas escolas. A igreja convida os pais a retirar os filhos das escolas em que a matéria seja ensinada.
Um comunicado recente emitido pelo Vaticano reitera algumas convicções da Igreja Católica: a indissolubilidade do casamento, a relação entre amor e procriação, a imoralidade da relações sexuais antes do casamento, o aborto, a masturbação e os métodos anticoncepcionais.

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