São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Pintura de 1426 mostra 1º caso de pólio

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro caso de poliomielite foi encontrado em um quadro, segundo estudo publicado na última edição da revista "The Lancet".
O pesquisador colombiano Carlos Hugo Espinel, da Universidade Georgetown (EUA), sugere que o jovem mostrado no quadro pintado em 1426, "São Pedro cura doentes com sua sombra", de Masaccio (1401-28), tinha poliomielite, também chamada paralisia infantil.
"Masaccio era algo mais que um grande artista. O jovem inválido foi pintado com tamanho realismo, que nos faz pensar em uma visita médica há cinco séculos", disse o pesquisador.
Segundo ele, o jovem retratado apresenta uma atrofia das articulações inferiores e uma perda de controle da mão na altura do pulso, que mostra claramente que o jovem teve uma doença no sistema nervoso.
Ainda segundo o pesquisador, o jovem não apresenta tônus muscular no corpo. A flacidez muscular é característica da poliomielite. Segundo Espinel, o jovem tinha as pernas em forma de "w" ao lado de seu corpo.
A doença afeta as células nervosas (neurônios) que levam o impulso nervoso até os músculos, fazendo com que eles contraiam.
Esses neurônios são chamados sensitivos, em oposição aos sensoriais, que levam as "sensações" até o cérebro.
O cientista sugere que o desenvolvimento acentuado dos músculos dos ombros e da parte superior do tórax mostra que a doença atingiu o jovem da sexta vértebra cervical para baixo. As vértebras cervicais são aquelas que ficam na região do pescoço.
"Os sintomas identificados -o problema nos membros inferiores, a atrofia muscular, a localização do problema espinhal e a musculatura forte dos ombros permitem concluir que o jovem tinha poliomielite", disse.
Espinel sugere que a pintura, que pode ser vista na capela de Brancacci, em Florença (Itália), é o primeiro caso de pólio. A forma epidêmica da doença só foi reconhecida em 1880.
"Com nossa ciência, examinamos a arte de Masaccio. Com nossa arte, pudemos apreciar sua arte", afirma o estudo.
O pesquisador conclui em seu estudo: "Nós experimentamos a ciência, a arte e os valores da medicina".

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