São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995 |
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Política comercial em 96
ANDRÉ LAHÓZ As críticas feitas às políticas econômicas do governo FHC em seu primeiro ano concentraram-se em pontos importantes, como a taxa de juros e câmbio, mas tocaram apenas superficialmente em outros, de impacto semelhante.No caso da taxa de juros, praticamente não há defensores. Os juros produziram inadimplência recorde no ano e contribuíram para o estouro das contas públicas. O nível atual do câmbio também sofreu duros ataques, embora muito menos frequentes. A volta dos superávits comerciais fez diminuir o barulho em torno do dólar, mas há muitas dúvidas sobre o comportamento futuro das contas externas. Há outro ponto, no entanto, sobre o qual o governo FHC cometeu seguidos erros. Trata-se da política comercial externa, ou da falta de uma. O objetivo da política comercial deve ser no sentido de viabilizar a abertura da economia, induzindo ganhos de produtividade, mas sem quebrar empresas e eliminar empregos. A partir de 1990 o Brasil entrou em um processo de abertura econômica. Talvez rápido demais, mas há pouca discussão sobre o sentido geral das mudanças. O governo FHC continua, é óbvio, comprometido com a abertura. Além disso, estão ocorrendo claros avanços nos acordos comerciais com outros países (em particular, o Mercosul). Mas falta uma definição clara de política externa. O primeiro ano do atual governo foi marcado por uma ação defensiva nesse campo. As medidas foram sempre no sentido de apagar incêndios de política econômica, e não como resultado de uma estratégia de longo prazo. São vários os exemplos. O governo usou as tarifas externas como forma de controle da inflação. As negociações sobre remarcações de preços com setores da indústria e do comércio tiveram sempre como pano de fundo a ameaça da redução das tarifas. As tarifas foram também utilizadas para corrigir problemas do balanço de pagamentos. O exemplo óbvio é o caso das cotas para carros. A tarifa de importação de carros foi seguidamente alterada, chegando ao teto de 70%. Com isso, frustrou uma série de investimentos feitos por importadores. É claro que, na época, havia a necessidade de se reduzir o déficit comercial. E não fazia sentido o país pagar tanto para que alguns pudessem ter um carro importado. Após a elevação das alíquotas, o país adotou o sistema de cotas. Retirou os países do Mercosul das cotas após a reação argentina. E depois teve de se enquadrar às regras da Organização Mundial do Comércio e abandonar a idéia. Para o ano que se inicia, é fundamental um jogo mais estável, que passa por uma definição sobre o modelo de país que se busca. É necessária ainda a correção de erros acumulados no tempo. Há vários setores que estão com problemas sérios, e não por ineficiência, mas por erros do governo. Texto Anterior: Mapa da mina; Conta de adiantamento; Fora do pregão; Em reavaliação; No planalto; Perdas na laranja; Motores reativados; Nova composição; Relato incompleto Próximo Texto: O revigoramento do mercado de ações na ordem do dia Índice |
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