São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Galisteu é 'arroz-de-festa' de talk-show

MÔNICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os talk-shows -programas de entrevista- tomaram conta da programação das TVs. O resultado é um festival de repetições nas atrações das entrevistas dos fins de noite. O fenômeno do "arroz-de-festa" virou lugar-comum nos programas deste ano. São os artistas e personalidades que estão em todas. E a campeã de 1995 foi Adriane Galisteu.
O "arroz-de-festa" vai ao "Jô Onze Meia", conversa com Marília Gabriela, faz parte do quadro de entrevistas produzidas de Amaury Jr., passa pelo sofá da Hebe Camargo e não dispensa uma esticada no cenário de bar do programa de Bob Coutinho, na TV Manchete.
Este ano Adriane Galisteu cumpriu este roteiro e sagrou-se campeã de exposição nos programas do gênero. Apareceu em todos. Esteve 10 vezes com Amaury Jr., deu duas entrevistas no programa de Marília Gabriela, esteve no programa da Hebe, no Jô e também participou de uma papo de fim-de-noite com Bob Coutinho.
Suas aparições na TV foram tantas que ela tomou gosto e resolveu passar para o outro lado: lançou seu próprio programa. Desde novembro, "Ponto G" é apresentado, aos sábados, na CNT. O namorado de Adriane, Julio Lopes, também debutou no gênero há duas semanas, com a estréia de "Astros e Estrelas", na mesma emissora.
"Se você tem espaço é porque tem público. Se tem público é porque você é amada. É questão de momento. Ver se cabe aproveitar ou não. Ninguém é obrigado a gostar de mim", diz Galisteu.
Produtores e apresentadores criaram artifícios para continuar recebendo a modelo. Foi o que aconteceu no programa de Bob Coutinho, na Rede Manchete: "Achei que Adriane já tinha aparecido muito. Usamos um gancho recebendo Adriane e Mônica Santoro em um quadro de ex-mulheres de craques. Tive sorte que ela ainda estava na berlinda, a 'Playboy' estava para sair e teve muita repercussão", diz Coutinho, o titular do talk-show.
Liz e Jatene
A ex-mulher de Romário não apareceu no Jô Soares, nem no set de Marília Gabriela. Mas cumpriu o circuito dos outros programas. Já o cantor Ivan Lins não deixou por menos. Para lançar seu disco "Anjo de Mim" não dispensou nenhum dos talk-shows. A modelo Claudia Liz fez o mesmo. "Fui para promover meu filme 'As Meninas' e a campanha do câncer de mama", afirma Claudia Liz.
O ministro da Saúde, Adib Jatene, também fecha o ano como um campeão de aparições. Frequentou todos os programas. "Sempre fui convidado, nunca pedi para ir. Todos eles queriam saber da situação da saúde, da Previdência, sobre prevenção à Aids, mortalidade infantil, problemas de atendimento em pronto-socorro. É esclarecedor. Sempre sou convidado e vou na medida do possível", diz Jatene.
Para entrevistadores e produtores a super-exposição de personalidades faz parte do show. Episódios como o escândalo e detenção do ator inglês Hugh Grant geraram peregrinações semelhantes nas emissoras norte-americanas. Hugh Grant foi nos três mais importantes: Larry King, da CNN; no David Letterman, da CBS; e no Jay Leno da NBC.
Os três grandes talk-shows norte-americanos são a inspiração dos programas nacionais."Acho que só o programa do Jô é um talk-show clássico. O da Gabi está mais próximo do modelo do Larry King, da CNN. Existem muitos programas de entrevistas, mas o bom resultado depende muito do entrevistador. Muitos vêm e vão", diz Ninho Moraes, diretor do programa de Marília Gabriela.
"O prefeito Paulo Maluf, o ministro Adib Jatene e Silvia Popovic participaram duas vezes. O rabino Henry Sobel também, mas em situação especial. Logo depois da primeira entrevista o Ithzak Rabin foi assassinado. Chamamos ele de novo na semana seguinte", diz Moraes.
Ele lembra que a produção de Marília Gabriela enfrenta uma limitação a mais que a concorrência. Os artistas e profissionais contratados pela Rede Globo são vetados no programa na Rede CNT.
Já a produção do Jô faz suas restrições: "Procuramos evitar as pessoas que foram na Marília", afirma Diléa Frate, diretora do Jô Onze e Meia. Nomes como Adriane Galisteu, Claudia Liz, Adib Jatene, Jorge Amado e Zélia Gattai, Zezé di Camargo & Luciano, e Darcy Ribeiro estiveram este ano nas listas de convidados
A audiência da jornalista está na média de 2 a 3 pontos no Ibope. O mesmo que Bob Coutinho, que tem dois pontos. Jô Soares, com oito pontos, garante uma participação de 34% do mercado. Segundo o Datafolha, 65% dos telespectadores paulistanos já assistiram ao programa do Jô. Cinquenta e oito por cento deles gostam do programa.
Com o amparo das pesquisas pode-se dizer que uma entrevista no Jô Onze e Meia pesa mais que uma turnê completa pelos outros programas. Mesmo assim o apresentador não se contenta. "Só vou me dar por satisfeito quando o Dorival Caymmi deixar de preguiça, tomar um avião e vir aqui me dar uma entrevista", diz o apresentador.

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