São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Números cruéis

Neste final de século, as economias nacionais parecem fadadas a conviver com dois graves problemas: o desemprego estrutural e a pobreza persistente -se não mesmo crescente- de amplas fatias da população mundial.
No Brasil, o desemprego decorrente do avanço tecnológico e da globalização da economia é fenômeno ainda recente. Mas, a miséria há muito deixou de ser novidade.
Mesmo assim, é inevitável que os números do IBGE relativos ao perfil de renda no país continuem a causar indignação. Afinal, permitem vislumbrar a péssima qualidade de vida da maioria.
Os dados do instituto, obtidos ainda em 91, mas lamentavelmente só agora divulgados, mostram que entre os chefes de família -isto é, os que têm os maiores rendimentos nos respectivos domicílios- 78,76% recebiam até três salários mínimos (R$ 300, em valores de hoje).
O caráter alarmante dos números do IBGE, denunciando uma maioria com fortes limitações para consumir até o essencial, indica que no Brasil quase tudo está por fazer no que tange ao resgate da chamada dívida social.
Ainda que seja uma utopia encontrar soluções imediatas para essa situação -assim como para o fenômeno relativamente mais recente do desemprego estrutural-, os números do IBGE mostram o quão urgente é dar início a essa tarefa.
Afinal, o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso já disse, mais de uma vez, que o Brasil não é um país subdesenvolvido, mas, injusto. O IBGE põe números cruéis nessa constatação empírica. A observação presidencial é apenas uma tomada de consciência. Mas, obviamente, não basta. Urge atuar.

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