São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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Entidade ligada à ONU sugere a reforma da Previdência do Brasil

SILVANA QUAGLIO
ENVIADA ESPECIAL AO CHILE

Os sistemas previdenciários dos países latino-americanos que ainda não passaram por uma reforma, como por exemplo o Brasil, estão condenados.
A conclusão é de especialistas da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe, ligada à ONU), com sede em Santiago, no Chile.
Afirmação semelhante foi feita pelo superintendente que fiscaliza as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) do Chile, Julio Bustamante: "Todos os sistemas da América Latina estão quebrados".
Segundo Andras Uthoff, assessor regional para políticas monetária e financeira da Cepal, a maioria dos sistemas está em crise devido a problemas estruturais.
O sistema clássico adotado no Brasil é baseado na coleta de contribuições obrigatórias de empregados, empregadores e do próprio Estado e na repartição do bolo de recursos para quem se aposenta.
É conhecido como sistema de repartição simples, no qual o montante do benefício que será recebido é conhecido pelo contribuinte (regime de benefício definido). O valor do benefício é calculado com base no salário médio nos últimos anos de trabalho.
Por isso, Uthoff diz que não há estímulo para que as pessoas paguem um montante condizente com a aposentadoria que desejam receber. Isso acontece principalmente com os trabalhadores que contribuem individualmente ao sistema previdenciário, que apenas no final aumentam a contribuição.
O Chile saiu na frente com a reformulação do seu sistema em 1981. Foi também o mais radical. A economia chilena estava em estado de coma -superinflacionada, decadente e hiperprotegida. A reforma da previdência fez parte de um conjunto de medidas que visavam a recuperação desse quadro.
Ainda restam problemas do ponto de vista social, já que o sistema não tem uma preocupação solidária, mas de premiar quem poupa mais.
Em vez de ter direito a pensão (com benefício definido pelo Estado), o participante deve contribuir a um fundo de sua escolha para comprar uma renda futura.
A contribuição determinada por lei é de 10% do salário (até o limite de US$ 1.600) mais uma taxa que varia entre 2,5% e 3% para o seguro de invalidez ou morte.
Os empregadores não contribuem com nada no novo sistema. Em troca disso, foram obrigados a repassar ao salário dos empregados a parcela de contribuição que lhes cabia antigamente (17%).
O novo sistema do Chile acabou com privilégios de muitas categorias. Bancários e políticos, por exemplo, aposentavam-se com 10 a 15 anos de trabalho.
Atualmente, só os cerca de 150 mil militares continuam tendo tratamento especial.

A jornalista SILVANA QUAGLIO viajou a convite da Sul América de Seguros.

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