São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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MST decide romper acordo e anuncia onda de invasões

GEORGE ALONSO; LUIZ MALAVOLTA
DA REPORTAGEM LOCAL

LUIZ MALAVOLTA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) considera desde ontem rompido o acordo com o governo paulista e já iniciou preparativos para uma "bateria de ocupações" no Pontal do Paranapanema (extremo oeste do Estado).
Em 4 de novembro, o MST suspendeu as ocupações, depois que o governador Mário Covas prometeu assentar as 2.101 famílias de sem-terra em lotes definitivos (1.050 até 31 deste mês e o restante até junho de 1996). O reinício das invasões no Pontal, batizado pelo MST de "janeiro quente", está marcado para 2 de janeiro.
Poderão ocorrer invasões simultâneas de fazendas num único dia. O MST quer ocupar até oito áreas rapidamente. As primeiras invasões, após o Réveillon, são chamadas de "Operação Ressaca".
O MST esconde a estratégia. "Ainda não definimos os métodos", dissimulou Walter Gomes, um dos 20 coordenadores regionais do MST, que se reuniram na casa do principal líder, José Rainha Jr., em Teodoro Sampaio (710 km a oeste da capital paulista).
O pavio de nova crise foi a tentativa do governo de assentar ontem, em lotes provisórios, 94 famílias na fazenda Arco-Íris, em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo).
A tentativa, rejeitada pelo MST, foi feita por técnicos do Instituto de Terras do Estado de São Paulo.
"Na Arco-Íris, conseguiram só 500 hectares, onde já estão assentadas desde junho, em lotes provisórios, 180 famílias. Na época, fizemos um acordo com o fazendeiro Américo Lanzoni. O governo não arrecadou área alguma. É como trocar Chico por Francisco", disse à tarde, insatisfeito, Rainha.
O secretário da Justiça, Belisário dos Santos Jr., principal negociador do governo, estranhou a reação dos sem-terra. Ele anunciou ontem que conseguiu na Justiça liminares que liberam 30% da área de nove fazendas, além da Arco-Íris. São quase 8.000 hectares.
"Não posso obrigar ninguém a aceitar. Mas será um absurdo, depois de tanto esforço, se as pessoas se recusarem a gozar dos benefícios. Só se for uma jogada publicitária", declarou Belisário.
Para o secretário, se o MST recomeçar as invasões, "será um desastre para o plano de paz".
À noite, Rainha disse que não sabia que o governo tinha obtido mais liminares, mas manteve a disposição de invadir as terras. "As liminares são medidas de força e podem ser cassadas a qualquer", porque os fazendeiros, que ocupam terras públicas, querem os pagamentos das benfeitorias rapidamente. "Aceitamos os 30%, mas vamos ocupar o resto", disse.

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