São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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França já tratou 90 doentes

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O tratamento de doentes de Aids com o plasma sanguíneo de pessoas infectadas com o vírus HIV tem efeitos positivos, mas hoje só pode ser aplicado a um número muito restrito de doentes porque é muito difícil obter doadores de plasma.
A avaliação é de Jean-Jacques Lefrère, um dos dois médicos que conduz a pesquisa e aplicação desse método terapêutico na França. Lefrère já aplicou o tratamento, ainda experimental, a 90 doentes.
Os estudos de Lefrère mostraram que os pacientes tratados com plasma têm três vezes menos infecções oportunistas que os demais doentes de Aids. Quando utilizado em soropositivos, o método retarda o aparecimento da doença.
Lefrère diz que ainda não há estudos sobre a relação entre a transferência de plasma e a esperança de vida dos doentes.
"Sabemos apenas que ele melhora a qualidade de vida", diz o médico, que é diretor da Unidade de Pesquisas Clínicas e Biológicas do Instituto Nacional de Transfusões Sanguíneas da França.
Lefrère não chama o método de "tratamento". "Uma terapia ou tratamento é aquilo que é eficaz, tem efeitos colaterais aceitáveis e pode ser aplicado a todos os pacientes. Falta esse último requisito a esse método." O médico diz que a transfusão de plasma é na verdade uma "pesquisa terapêutica".
"Não sabemos ainda como o método aumenta as defesas imunológicas, se pela ação de anticorpos ou de outras moléculas. Quando pudermos isolar esses dois fatores e produzi-los em escala industrial teremos uma terapia de fato."
Segundo Lefrère, as primeiras pesquisas sobre a imunoterapia passiva em Aids começaram há dez anos, na Inglaterra e EUA.
Na França, o método começou a ser praticado experimentalmente há três anos. Os estudos sobre sua eficácia ainda não são generalizáveis, pois o ritmo e a quantidade das transfusões em cada experiência foram diferentes.
Perguntado se a imunoterapia passiva deve ser experimentada em todos os países, Lefrère afirma que as transfusões exigem grandes recursos e mesmo assim podem ajudar apenas poucas pessoas. "Para aqueles doentes que podem utilizá-lo, representa uma grande melhora na qualidade de vida. Mas investir ou não no método é um problema ético e de saúde pública que o médico não pode resolver", diz.

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