São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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'Filhos de Peixe' fazem carreira na música

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado musical está recebendo uma enxurrada de novos músicos, cerca de 30, que carregam alguns sobrenomes respeitados da MPB, como Jobim, Veloso e Lobo.
No Rio de Janeiro, onde a maior parte desses músicos surgiu, muitos costumam participar de projetos conjuntos. O que motivou um apelido para o grupo.
"Há alguns meses, um grupo que incluía eu, Daniel Gonzaga, Clara Moreno, Daniella Colla e Bernardo Lobo fez uma série de shows que se chamava 'filhos de peixe'. Depois disso o apelido pegou. As pessoas nos chamam de 'filhos de peixe' ", explica a cantora Eliane Faria, 30, que canta samba -como o pai, Paulinho da Viola- e MPB.
Os outros a quem ela se referiu são filhos de Gonzaguinha, de Joyce, do compositor Carlos Colla e de Edu Lobo.
Há um intercâmbio grande entre eles. Um exemplo: Além de cantor, Daniel Gonzaga, 20, é compositor, e já escreveu músicas para Eliane e Clara Moreno. "Profissão de músico é fascinante. Se perguntar para uma criança se quer ser engenheiro ou músico, ele vai preferir ser músico", avalia o crítico Sérgio Cabral.
"Existem filhos de atores, médicos, dentistas e escritores que seguem as profissões dos pais", relativiza a cantora Dora Vergueiro, 19 -filha do violonista Carlinhos Vergueiro -, uma sambista loura, de olhos azuis, que é modelo da Elite. "Conheci Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Nélson Cavaquinho, Cartola. Foi um privilégio", afirma.
Convivendo desde cedo com música, a escolha é mais do que natural. O que não explica a quantidade de novos nomes. "Todo mundo resolveu fazer filho na mesma época, e agora nós estamos prontos", ri o cantor Pedro Camargo Mariano, 20, filho de Elis Regina e César Camargo Mariano.
Morando em São Paulo, Pedro não faz parte do grupo apelidado de "filhos de peixe". Mas bem que poderia ser um. Assim como seus irmãos, o baixista Marcelo Mariano e o baterista e produtor João Marcello Boscoli. Recentemente, João Marcello lançou um disco solo, "João Marcello Boscoli e Cia.", que contou com a presença de Marcelo, Pedro e do vocalista Wilson Simoninha e do guitarrista Max de Castro -filhos de Wilson Simonal.
Como boa parte dos "filhos de peixe", eles estão vindo à tona agora, mas já batalham por um espaço há algum tempo.
"Há dez anos faço música para publicidade, o que me deu contato com estúdio. Toquei teclado na banda do Zé Pretinho, do Jorge Ben Jor, e gravei com o Sadao Watanabe", conta Simoninha. Hoje, tanto ele quanto Pedro se preparam para lançar discos solo.
Outros também batalham para isso. O pianista Daniel Jobim, 22, neto de Tom, está preparando disco em inglês com seu grupo, Bridges, que mistura pop e MPB.
Filha de Joyce, Clara Moreno, 24, voltou ao Brasil depois de seis anos na França, em que conciliou o estudo de Civilização Francesa na Sorbonne com a carreira de cantora de MPB e jazz em piano-bar. Em Paris, gravou dois singles. Aqui, seu disco sai em março, com inéditas e regravações de "Detalhes", de Roberto Carlos, e "Partido Alto", de Chico Buarque.
Sérgio de Carvalho, diretor artístico da BMG-Ariola vê com reservas tantos filhos de músicos se lançando, ao mesmo tempo, na carreira dos pais. "Não necessariamente o filho de um grande músico será um grande músico. Às vezes o sobrenome atrapalha, mas os bons vão ter espaço", avalia. Ele conhece o trabalho de poucos, mas cita o guitarrista Davi Moraes, filho de Moraes Moreira, como excelente.
Davi, 22, começou a estudar cavaquinho aos 10. Entrou para a banda do pai com 16. Em 94 foi tocar com Marisa Monte. Agora, tem planos de gravar, no próximo ano, um disco solo, misturando MPB e pop.
"Meu pai me incentivou. Costumávamos tocar juntos em casa. Convivi com bons músicos e aprendi a lidar com estúdio", diz.
Para todos, um bom sobrenome ajuda, mas não basta. "Eu estaria fazendo média com o mundo se dissesse que sobrenome não ajuda. Mas se não suar a camisa, não tem genética que dê jeito", diz Pedro Camargo Mariano.

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