São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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Coleção revive o balanço do jazz-soul

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Às vésperas do final do século, os "revivals" continuam na ordem do dia. Agora chegou a vez do jazz-soul, uma dançante fusão musical desenvolvida nos anos 60, que voltou ao mercado fonográfico após ser redescoberta pela geração do "acid jazz".
A primeira faixa do volume 1 já diz quase tudo. Em gravação de 1965, o trompetista sul-africano Hugh Masekela toca "Cantaloupe Island" -clássico de Herbie Hancock que virou hit mundial em 1994, ao ser transformado em jazz-rap pela banda inglesa Us3.
Esse sucesso desencadeou uma corrida aos arquivos de tradicionais selos de jazz, atrás de outros "grooves" -os ritmos dançantes que os DJs ingleses já vinham "emprestando" de discos de jazz dos anos 60 e 70.
Mesmo sem contar com um catálogo tão bem provido no gênero como o do selo Blue Note (cuja série "Rare Grooves" já foi lançada aqui pela EMI), a compilação da Verve não faz feio.
Com uma abordagem quase arqueológica, o produtor Seth Rothstein reuniu nos cinco CDs não apenas gravações na linha jazz-soul, mas também algumas experiências precursoras.
Uma década antes que o jazz se dobrasse ao apelo dançante da "soul music" (gênero pop negro, que misturou o blues com o fervor religioso do "gospel", nos anos 60), músicos como o baterista Art Blakey forjaram um estilo nessa linha, conhecido como "funky".
É o que se ouve na precursora "Blues March", faixa gravada ao vivo em Paris, em 1958, por Blakey e sua inseparável banda Jazz Messengers, que na época incluía o trompete de Lee Morgan e o sax de Benny Golson.
Outra evidente raiz do jazz dançante aparece em "After Hours", blues gravado em 1957, por um trio de feras: Dizzy Gillespie (trompete), Sonny Rollins e Sonny Stitt (saxofones).
Mestre na arte de tocar o blues com o máximo de balanço, o organista Jimmy Smith é o campeão em faixas nessa coleção -com cinco, ao todo, incluindo suas populares gravações com orquestras.
Geralmente associado ao jazz erudito do Modern Jazz Quartet, o vibrafonista Milt Jackson também dá um show de molejo e "blues feeling", nas faixas "A Time and a Place", "Whalepool" e "Bring It Home (To Me)".
Não faltam ainda exemplos do divertido "boogaloo" (que mistura o rhythm & blues com o mambo cubano), assinados por Les McCann e Willie Bobo.
Mostrando a atualidade do jazz-soul e seus congêneres, a coleção inclui também gravações bem recentes, como as do Roy Hargrove Quintet ou as do James Taylor Quartet.

Coleção: The Soul of Jazz
Músicos: Jimmy Smith, Milt Jackson, Herbie Mann, Dizzy Gillespie, Quincy Jones, Jon Hendricks, Nina Simone, Wes Montgomery, Eddie Palmieri, Cal Tjader, Les McCann e outros.
Formato: 5 CDs
Lançamento: Verve/Polygram
Quanto: R$ 20 (cada CD, em média)

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