São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995 |
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A arte do século Comemorou-se ontem o centésimo aniversário da primeira projeção pública de cinema, dos irmãos Lumière. A importância do fato -mais que da data em si- revela a influência que a dita "sétima arte" exerceu ao longo deste século. Nenhuma outra forma de expressão incorporou tão facilmente todas as outras: dramaturgia, música, arquitetura, fotografia, reinventadas por meio dos truques de edição. Como no antológico desenho "O Aprendiz de Feiticeiro", da Disney, toda essa mágica encerra seus perigos. O poder exercido pelas imagens em movimento alimentou e fortaleceu as mais variadas ideologias: de Eisenstein, cantando a Revolução Russa, até Leni Riefenstahl registrando a pujança do nazismo. Nos EUA, mesmo antes do advento do som, o cinema cimentou a ideologia de democracia e oportunidades para todos numa época em que se abria para as mais distantes ondas de imigração. A Itália reconstruiu seu imaginário com o neo-realismo ao mesmo tempo em que se levantava dos escombros da Segunda Guerra. No Brasil, a aventura do Cinema Novo também procurou sintonizar o país ao resto do mundo desenvolvendo uma identidade temática e estética própria. Mas hoje o cinema está bem distante da pretensão de atuar efetivamente de maneira política, ou mesmo de querer ditar a vanguarda, como era praxe no discurso dos cineastas até o início da década de 70. Assume-se agora predominantemente como a arte do entretenimento por excelência, tendo como desdobramento o avanço das novas tecnologias e linguagens de difusão (TV, vídeo, mídia interativa). O cinema já teve sua morte decretada diversas vezes, mas sempre que parecia rendido às "novas tecnologias" ou "novos meios", eis que os deglute e reaparece como um canibal bem-alimentado. É aí que se devem louvar aqueles poucos gênios que teimam em manter a arte do cinema viva, recusando-se a apenas divertir multidões. Texto Anterior: Sem mágica, com dor Próximo Texto: Ano velho, ano novo Índice |
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