São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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"Ideal é que juros caiam pela metade", diz Lopes

Diretor de Política Econômica do BC não faz previsão

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das melhores notícias que o governo tem para 1996 é uma declaração de intenções. Diz o diretor de Política Econômica do Banco Central, Francisco Lopes: "O ideal é que a taxa de juros em 96 seja a metade do que foi em 95. Mas não podemos nos comprometer com isso".
A queda dos juros é ideal por vários motivos, dos quais o mais importante é o de reduzir gastos do governo. O setor público brasileiro, incluindo governos federal, estaduais, prefeituras e estatais, vai terminar 1995 com uma dívida equivalente a 31% do PIB (Produto Interno Bruto).
Na conta de Lopes, esse PIB será de US$ 560 bilhões. Desse modo, a dívida pública geral será de US$ 173,6 bilhões. O governo paga juros sobre essa dívida.
O setor público deve fechar 1995 com um déficit nas suas contas equivalente a 4% do PIB. E só com juros foram gastos 5% do PIB. Ou seja, se os juros caírem pela metade em 1996, a despesa com juros cai para 2,5% do PIB, e déficit total do governo cai para 1,5%, um índice bom.
Além disso, com juros menores, as empresas investem mais, as pessoas compram mais. Esse aquecimento da economia gera mais impostos e um ambiente político favorável.
Por que então o governo não se compromete com essa redução dos juros? Ocorre que o objetivo central da política econômica neste momento, diz Lopes, é controlar duas variáveis interligadas, a inflação e o nível de atividade.
Ou seja, o principal compromisso do governo para 1996 é uma inflação mais baixa do que em 95. A taxa de juros, assim como o controle do crédito, é instrumento desse objetivo principal.
O Banco Central abre 1996 com a taxa de juros mais baixa desde o início do Plano Real. E mantém o processo de redução das restrições ao crédito e de devolução dos dinheiro que obrigou os bancos a deixarem no BC.
Essa linha será mantida enquanto a economia continuar no ritmo que vem.
A grande divergência está na previsão do resultado do comércio externo. Nas contas do governo, o saldo pode ir de US$ 1 bilhão a US$ 3 bilhões.
Fora do governo, as previsões vão de um déficit de US$ 800 milhões para um superávit de US$ 5,6 bilhões, o que dá uma idéia da dificuldade do assunto.
Quanto ao setor público, o objetivo da política econômica oficial é, além da redução das despesas financeiras, um forte ajuste nas contas dos Estados e municípios.
Em resumo, estão aí os fundamentos do Plano Real: a prioridade é derrubar a inflação, considerando-se que a estabilidade é condição necessária para um desenvolvimento sustentado.
A receita é controle do nível de atividades e ajuste do setor público. O risco é um erro de dosagem fazer com que o remédio mate o doente. Por exemplo, o controle do nível de atividade terminar em recessão e os juros elevados terminarem em colapso das contas do governo.
Qual o tamanho desse risco? Difícil prever. Manter a economia no espaço entre os dois polos indesejáveis, a recessão e o excesso de consumo, "é mais uma questão de arte do que de técnica", diz Amaury Bier, economista do Citibank.
(CAS)

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