São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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1995 no retrovisor

Segundo anedota, os economistas dirigem seus automóveis guiando-se pelo espelho retrovisor. Ou seja, apesar de toda a sofisticação teórica e instrumental, na prática o que eles fazem é sugerir medidas, políticas e rumos tomando por base a experiência passada. O futuro é incerto e a ausência de regras é pior que uma regra ruim.
Essa espécie de filosofia econômica de botequim ajuda a entender um pouco o que se fez no Brasil em 1995. Olhando pelo espelho retrovisor, os economistas do governo viam, à distância, uma sucessão de acidentes e derrapagens que procuraram evitar. Viam, no passado mais imediato, uma expansão vigorosa da economia que, mantida àquele ritmo, poderia precipitar o plano da estabilização no precipício das esperanças frustradas.
Desse ponto de vista, talvez a grande vantagem de 1996 seja simplesmente ter 1995 no espelho retrovisor. Na medida em que fiquem mais claros os riscos da retração prolongada da atividade econômica para todos os setores e para o governo (pela corrosão inevitável da arrecadação de impostos quando a economia desfalece) o piloto mudará de rumo, engatará uma nova marcha e evitará esse outro precipício, igualmente perigoso, da desagregação econômica e social.
Se o percurso da economia em 1995 foi de um rápido crescimento para a estagnação, 1996 talvez apresente uma trajetória inversa. O ano provavelmente começará mal e terminará melhor. Espera-se um primeiro trimestre fraco e uma possível recuperação mais adiante, ainda que sem alcançar as taxas "chinesas" (crescimento de 10% ao ano) registradas no início de 95.
É apenas um cenário plausível, levando em conta a fixação dos economistas no espelho retrovisor. Resta esperar que a decisão de reacelerar venha antes do motor ficar afogado e o carro, atolado.

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