São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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Imagem de "Fonte" é rançosa

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

"Fonte da Saudade" (Bandeirantes, 21h45) é um filme exemplar. Não pelo seu sucesso (comercial ou estético) mas essencialmente pelo seus erros. No filme de Marco Altberg, as mulheres se parecem com personagens. Se a justificativa é de que se trata de cinema, aí o caso se agrava. Porque as ações dessas mesmas mulheres se parecem com figuras criadas pela televisão. Realizado em 1986, "Fonte" guarda alguns maneirismos típicos do fim da década passada: o psicologismo barato, imagens com um ranço publicitário e, talvez o pior, o engajamento fácil.
No caso de Altberg, a grande causa são aos mulheres. Ou melhor, os problemas a serem vencidos pelas mulheres durante toda a vida.
Problemas que significam, apenas, vencer a influência danosa da imagem masculina. Um engajamento que traz ainda um reforço irônico. A presença de Lucélia como o arquétipo da mulher que sofre, representado em três diferentes papéis.
O resultado final é um filme deslocado, que oscila de forma terrível entre a boa intenção (que ao menos em Alteberg parece se ligar ao engajamento) e a pretensão de realizar um cinema respeitável. Um cinema de qualidade, vitimado por sua total falta de identidade.
Um filme que mostra o momento em que se procurava uma saída qualquer para o cinema nacional, tendo como consequência a procura de um modelo de sucesso —no caso a TV. E tendo como resultado, também, um filme qualquer.

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