São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parlamentares dos EUA ignoram lideranças

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O pacote de ajuda ao México proposto pelo presidente dos EUA há três semanas tinha o apoio da Casa Branca, do presidente do banco central, da comunidade empresarial e dos líderes do governo e da oposição no Congresso. Mesmo assim, nem chegou a ser discutido em plenário tão pequenas eram suas chances de aprovação.
O episódio mostra que o 104º Congresso norte-americano, eleito em novembro de 94, não obedece necessariamente ao comando de suas lideranças e pode reservar surpresas ao país e ao mundo.
Muitos dos novos congressistas, em especial na Câmara, só estiveram em Washington como turistas e alguns nem isso. Eles não têm ainda conexões com o universo do poder instituído.
Sua relação com os eleitores é forte e direta. A decidida recusa ao auxílio ao México é um sintoma da grande rejeição que existe entre os norte-americanos típicos à idéia de se gastar dinheiro com estrangeiros.
Pesquisas de opinião pública mostraram oposição de 70% a 81% dos entrevistados à sugestão inicial de Bill Clinton de que o Tesouro dos EUA servisse como avalista para empréstimos de até US$ 40 bilhões ao México.
Outra pesquisa, anterior à crise mexicana e feita pela Universidade de Maryland, mostrou que a maioria absoluta dos norte-americanos não faz a menor idéia de quanto o país gasta em ajuda externa.
Eles acham que esse gasto é exagerado mas acham que ele está em torno de 5% do PIB norte-americano. Dizem que 2% do PIB seria aceitável e se surpreendem quando descobrem que de fato a cifra não chega a 1% do PIB.
Mas esse tipo de trabalho acadêmico não tem a menor importância política para os congressistas em Washington ou para os eleitores em Kansas ou Minnesotta.
Uma conclusão sobre a política doméstica norte-americana que esta crise permite inferir é que vai ser muito difícil pelo menos nos próximos dois anos que os EUA ajudem um país na mesma escala que ajudou o México.
Isso pode ser um fator de precupação para vários países, mas em especial para a Rússia e outros da Europa oriental.

Texto Anterior: Planalto decide cultuar imagem de FHC
Próximo Texto: Crise mexicana põe FMI em xeque
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.