São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Planalto decide cultuar imagem de FHC

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso, 63, será garoto-propaganda de si mesmo. A estratégia de comunicação do governo prevê uma superexposição do presidente nos próximos dias.
Ele fará mais dois pronunciamentos em rede nacional de rádio e TV. No primeiro, previsto para a próxima terça-feira, falará sobre os planos do governo para a área de educação.
No outro discurso, marcado para o dia 14, tratará das propostas do governo para a reforma da Constituição. A data é considerada estratégica. Trata-se da véspera do início efetivo dos trabalhos do Congresso.

Espantado
Fernando Henrique ficou assustado com a queda-relâmpago de sua popularidade —despencou de 70% para 36% em apenas um mês, conforme o último levantamento do Datafolha.
Embora atribua parcela de responsabilidade à ação do Congresso, que jogou nas suas costas o veto ao aumento do salário mínimo e a sanção à anistia do senador Humberto Lucena (PMDB-PE), cuja candidatura foi cassada por ter usado a gráfica do Senado com fins eleitorais, o presidente acha que parte do desgaste deve ser debitado à ineficiência de comunicação do próprio governo.
Daí a superexposição a que se submeterá o presidente. Computando-se o pronunciamento feito na última sexta-feira, Fernando Henrique irá três vezes à TV em fevereiro. Trata-se de um contraste em relação ao isolamento que se impôs em janeiro.
Na verdade, a Presidência ainda não dispõe de uma política clara para a área de comunicação. Realizaram-se desde a posse duas reuniões para tratar do assunto. Ambas no Planalto.
Além dos pronunciamentos de Fernando Henrique, dicidiu-se pouca coisa. O governo quer utilizar, por exemplo, o espaço gratuito de que dispõe nas rádios e televisões —dez minutos diários em cada emissora— para explicar à sociedade as propostas de reformulação do texto constitucional.
A despeito da repercussão negativa da colaboração informal que se estabeleceu entre a agência DM-9 e o Palácio do Planalto, o governo tem planos de pedir a outras agências que contribuam com idéias para a campanha pró-reforma da Constituição.
A DM-9 fez a campanha eleitoral de Fernando Henrique. Depois de sua posse, passou a contribuir gratuitamente para a nova gestão.
Elaborou a logomarca do governo —um retângulo azul, com o brasão da República e a inscrição "Governo Federal"— e uma campanha para a pasta da Educação, cujo slogan é "Acorda Brasil. Está na hora da escola".
Como não dispõe de dinheiro no Orçamento para realizar campanhas publicitárias, o governo vai procurar outras agências que se disponham a fornecer, de graça, novas idéias.
O contato será feito por intermédio de entidades de classe como a Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade).
Embora alguns advogados tenham afirmado que o trabalho gratuito das agências constituiria uma ilegalidade, o governo tem opinião diversa.
O que se diz no Planalto é que a irregularidade só se configuraria se tivesse sido aberto um processo de licitação. Neste caso, a lei proibiria a aceitação de preços irrisórios ou gratuitos.
A decisão de explicar os projetos de reforma é preventivo. Teme-se que, dependendo da abordagem de determinados temas, o desprestígio do novo governo junto à sociedade possa crescer.

Previdência
Um dos temas considerados mais delicados é a reforma da Previdência. Fernando Henrique considera essencial que o governo consiga explicar que os chamados direitos adquiridos permanecerão intocados.
A composição das reuniões em que o governo tenta estabelecer uma política de comunicação social é eclética.
Participam Roberto Muylaert, secretário de Comunicação da Presidência; Eduardo Jorge, secretário-geral da Presidência; Ana Tavares, subsecretária de Assuntos de Imprensa; Sérgio Amaral, porta-voz do governo, e até Sérgio Motta, ministro das Comunicações.

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