São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995 |
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Desânimo é perspectiva do planeta para 95
CLÓVIS ROSSI
"Qual é a diferença entre um pessimista e um otimista? Um pessimista acha que as coisas podem piorar e o otimista diz: Sim, podem", contou Pushkov em uma das mesas-redondas do Fórum Econômico Mundial, encerrado terça-feira na Suíça. Poderia ser apenas uma boa piada, não fosse de fato um instantâneo da realidade contemporânea. Tome-se o exemplo dos Estados Unidos, certamente o exemplo mais emblemático dessa realidade. "Os Estados Unidos voltaram a ser os primeiros em produtividade, o crescimento em 1994 foi de exatos 4% enquanto a inflação foi de 2,4%. Esta é melhor combinação do gênero em mais de 30 anos", relata Jerry Jasinowski, presidente da Associação Nacional Manufatureira norte-americana. Mas os fatos e as pesquisas demonstram que os norte-americanos estão mais para os "otimistas" da piada de Pushkov. A pesquisa: dois terços dos americanos acham que o país caminha na direção errada, diz Patrick Glynn, PhD pela Harvard University e membro do Instituto da Empresa Americana para a Pesquisa de Políticas Públicas. O fato (consequência do anterior): Bill Clinton sofreu, em novembro, a mais contundente derrota eleitoral conhecida por um presidente dos EUA em 40 anos. Se se preferir a Europa como exemplo, tome-se a palavra do luxemburguês Jacques Santer, novo presidente da Comissão Executiva da União Européia, o braço político do conglomerado de 15 países: "Muitos cidadãos dos países da União Européia sentem que ela não está fazendo o suficiente para beneficiá-los", diz Santer. Na América Latina, ouça-se o chanceler colombiano Rodrigo Pardo García-Pe¤a: "Estamos em um mundo caótico, muito diferente do que esperávamos quando a Guerra Fria terminou". Resume Patrick Glynn: "Ao contrário de 1989, quando houve um surto de otimismo na esteira da queda do Muro de Berlim, 1995 começou com um sentimento geral de pessimismo, de retrocesso político e de infelicidade", diz. Pode piorar muito se se concretizar um dos dois cenários que a Shell desenhou para o ano 2020. Nesse cenário, significativamente batizado de "Barricadas", o medo da competição externa e as dores da liberalização econômica triunfam sobre as distantes perspectivas de ganhos a longo prazo. Consequência: em 2020, haverá "um mundo profundamente dividido, com pobreza generalizada e problemas ambientais nos países mais pobres. Nas nações ricas, uma força de trabalho que encolhe e uma população que envelhece levam à queda no investimento". O cenário pessimista da Shell (o otimista chama-se "Novas Fronteiras") introduz a essência do problema do mal-estar contemporâneo: as dores da globalização e da liberalização econômica. Não são um mal em si, mas a fase de transição é dolorosa pois rompe tradições, de um lado, e se faz a uma velocidade que o ser humano médio não acompanha. "A ironia é que quanto mais nós compartilhamos informação, quanto mais comércio fazemos uns com os outros, quanto mais reduzimos barreiras na área comercial, mais ainda o povo quer destacar e reter sua herança cultural única", admite James Bolger, primeiro-ministro da Nova Zelândia. Texto Anterior: Crise mexicana põe FMI em xeque Próximo Texto: AGENDA PARA 95 Índice |
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