São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Governo quer acordo para reduzir importação

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo pretende reduzir a importação de carros prevista para este ano, mas de forma negociada com a indústria. O governo quer garantia de que produção interna será elevada e que não haverá aumento de preço do carro nacional.
Por isso, as medidas de contenção de importação deverão ser tomadas no âmbito da câmara setorial da indústria automotiva.
O governo decidiu tomar providências não tanto por causa das importações feitas em 94 (em torno de 180 mil carros), mas por causa das previsões para este ano, 450 mil veículos.
O governo se assustou com o fato de que os fabricantes nacionais planejavam importar nada menos que 300 mil automóveis. Isso seria uma sinalização de que importar acabaria sendo mais negócio do que produzir aqui. A consequência seria fechamento de fábricas e perda de empregos.
Outro fator de inquietação foi o peso dos automóveis na conta de importações, especialmente neste momento em que o governo quer evitar déficit no comércio externo.
Há duas possibilidades em estudo: aumentar o imposto de importação (hoje de 20%) ou estabelecer quotas. O aumento de imposto é a alternativa preferida pelo governo.
Alguns representantes da indústria automobilística vinham reivindicando as quotas, segundo o modelo argentino. Os importados são limitados a 10% do total de veículos vendidos. E quem produz e exporta carros pode importar com imposto menor, de 2%. Quem é só importador paga 18%.
Mas a equipe econômica não aprecia esse tipo de controle. É burocrático, exige administração pesada para a concessão das quotas e abre espaço para corrupção.
A equipe prefere o aumento de alíquotas, que, pelos acordos do Mercosul, precisa chegar a 20% só no ano 2.004.
O Brasil havia se antecipado, no final de 94, reduzindo a alíquota para 20%. O objetivo era combater o ágio no carro "popular" e pressões por aumento de preços internos.
Funcionou. O ágio começou a cair e a simples possibilidade de maior oferta fez cair o preço dos carros nacionais médios e de luxo.
O aumento da alíquota para os anteriores 35% tende a produzir efeitos inversos. Em primeiro lugar, sobe o preço dos importados, com consequente redução da demanda. E abre espaço para a elevação de preço do carro nacional.
É o que o governo quer impedir através de acordos na câmara. Mas qualquer que seja a decisão, haverá uma clara mudança de política.
O núcleo original da equipe econômica do Real, formado por Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Gustavo Franco, nunca gostou de aplicar controles sobre o mercado. Bacha, hoje presidente do BNDES e um dos principais formuladores do Real, dizia que a indústria automobilística é um cartel que se acertava com outro cartel, o sindicato de trabalhadores, e impunha preços ao consumidor.
Por isso mesmo, a equipe econômica original não estimulou as câmaras setoriais. Ao contrário, colocou-as na geladeira.
A crise do México contribuiu para a mudança de política. Deu força aos membros que se agregaram à equipe econômica, como José Serra, ministro do Planejamento, e Dorothéa Werneck, ministra da Indústria e Comércio, uma entusiasta da câmara setorial.
Para esses novos membros, a idéia de proteger a indústria nacional é positiva. Assim, a restrição à importação de automóveis será um precedente importante. Os mesmos argumentos, conter déficit e defender empregos, valem para a indústria têxtil, para a eletrônica etc.
A mudança será significativa porque todos os índices de preços mostram que a importação está segurando a inflação. Os itens que mais sobem são justamente aqueles que não podem ser importados, como serviços e aluguel.

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