São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Krause manda rever obra do S. Francisco

VALDO CRUZ ; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Krause manda rever obra do S. Francisco
O ministro do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Gustavo Krause, 48, mandou reavaliar o polêmico projeto de transposição de águas do rio São Francisco. O ministro diz que o "projeto sequer existe".
Em entrevista à Folha, Krause afirmou que o governo precisa avaliar o impacto da obra no meio ambiente antes de se decidir pela execução.
A idéia do projeto surgiu no governo Itamar Franco para beneficiar, principalmente, os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte.
O ex-governador e agora senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) é um dos seus maiores críticos.
O ministro pefelista afirma que o governo pretende irrigar 36 mil hectares este ano no Nordeste. A verba, de R$ 140 milhões, está garantida, diz.
Krause afirmou que o parlamentar que não defender as reformas na Constituição estará dando "um tiro no próprio pé e no mandato popular que recebeu".
A seguir, trechos da entrevista que o ministro concedeu à Folha:

FUNÇÃO DO MINISTÉRIO
É a função articuladora, é um ministério de ampla articulação intergovernamental. O ministério lida com a utopia concreta do século 21, que é a transição de um progresso material que devastou o planeta para um progresso material que respeite o ambiente. É uma utopia concreta porque ou se faz isso por lucidez ou faz isso castigado pela catástrofe. É isso que se chama desenvolvimento sustentável.

DESAFIO
O grande desafio é dar conteúdo social à questão do meio ambiente. No Brasil, quem mais sofre com a degradação do meio ambiente é a pobreza, e quem mais sofre com a pobreza é o meio ambiente.

VERBAS
Em relação ao Meio Ambiente há perto de R$ 500 milhões. Em irrigação, que é uma face do uso dos Recursos Hídricos, serão aplicados aproximadamente R$ 140 milhões em 36 mil hectares de perímetros públicos (terras irrigadas pelo governo localizadas principalmente no Nordeste). Isso significa 50% do que já foi feito até hoje em perímetros públicos.

LIXO E MERCÚRIO
Vamos criar projetos mobilizadores, para solucionar problemas como a questão dramática do lixo urbano, para combater a utilização do mercúrio.
Vamos criar também projetos de educação ambiental dentro do programa de teleescola. Vamos nos articular com fundações privadas para viabilizar este tipo de educação ambiental.

SONHOS
Eu tenho alguns sonhos. Primeiro, que um dia o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) tenha 150 milhões de fiscais, que a cidadania seja o grande controlador. E que um dia a consciência governamental chegue a tal ponto que não seja necessário um Ministério do Meio Ambiente. Esse não é um sonho maluco, é um sonho de olhos abertos.

PROJETO SÃO FRANCISCO
A obra de transposição de águas do São Francisco é obra de engenharia política, não é obra de engenharia hidráulica. Não é decisão de uma pasta. É decisão de governo.
O projeto nem sequer existe. É preciso fazer a inserção deste projeto dentro do processo decisório compartilhado que o presidente coloca em prática. Qual a relação custo-benefício? Não há nem o que discutir quanto a isso.
Agora, qual é o impacto disso no meio ambiente? No rio? É preciso conversar. O processo será mais reflexivo e lento na decisão para ser veloz na implementação.

TIRO NO PÉ
O parlamentar que não estiver atento para a questão das reformas estará dando um tiro no próprio pé e no mandato popular que recebeu. O recado das urnas foi claro: nós queremos moeda estável, um salário que não seja comido.

PREVIDÊNCIA VIRA PÓ
O direito adquirido da Previdência virá pó, sem a reforma do sistema. Não vi nada que o presidente tenha apresentado que já não se soubesse que é preciso mudar.
O que há de mais fundamental, entretanto, é a desconstitucionalização, porque significa uma alteração profunda nas relações políticas. Significa acreditar nas regras do jogo democrático e fazer o Congresso um locus desse jogo democrático.

DISTRIBUIÇÃO DE CARGOS
Quem imaginar que o presidente vai fazer leilão está equivocado. É preciso entender que é possível a negociação política, mas o presidente não abrirá mão dos fatores que lhe dão perante a sociedade uma enorme credibilidade.
Sabe qual é a coisa mais tranquila para um ministro ou para um presidente? É quando se apresenta alguém que tenha competência, seriedade e apoio político.
A negociação é possível, mas esses critérios têm de ser respeitados.

Texto Anterior: FHC anunciou veto para salário mínimo de R$ 100
Próximo Texto: Obra custa US$ 2,1 bi e beneficia quatro Estados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.