São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Cresce lucro dos bancos após o Plano Real

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O lucro líquido acumulado dos 15 primeiros bancos a divulgarem seus balanços anuais de 1994 cresceu 133% no segundo semestre em relação ao primeiro, segundo levantamento da consultoria Austin Asis.
Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) e do Conselho de Administração do Bamerindus, afirma que os resultados dos bancos demonstram a agilidade exigida das instituições, que vem se preparando para a estabilização econômica desde o Plano Cruzado em 1986.
O Bamerindus teve um lucro líquido de R$ 111,3 milhões no ano passado, com evolução real de 13,6% em relação ao mesmo período de 93. No final de 94, as operações de crédito registravam um saldo de R$ 5,6 bilhões, com evolução real de 47,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O Bradesco, maior banco privado nacional, registrou aumento de 13,7% em seu lucro líquido no segundo semestre em relação ao primeiro de 94. O lucro anual atingiu US$ 530 milhões, com crescimento de 43,6% em relação ao ano anterior.
Armando Fernandes Júnior, vice-presidente do Bradesco, diz que a instituição vem se preparando desde 1986 para trabalhar em períodos de estabilidade econômica com fortes investimentos em informática. Os resultados de 94 foram considerados satisfatórios, apesar das pressões exercidas pelos recolhimentos compulsórios sobre as operações de captação e empréstimos.
O lucro líquido anual do Bradesco foi de R$ 445,7 milhões, representando uma rentabilidade de 12,15% sobre o patrimônio líquido (recursos próprios) dentro da média histórica do mercado financeiro. Os impostos e contribuições da instituição somaram R$ 566,2 milhões no ano passado.
O Banco Itaú registrou lucro líquido de R$ 320 milhões, com crescimento real de 2,7% em relação ao ano anterior.
Erivelto Rodrigues, diretor da consultoria Austin Asis, diz que os bancos privados conseguiram compensar a perda com as receitas inflacionárias (depósito à vista e cobrança) com maior ganho com tarifas e operações de crédito.
Com o Plano Real, o consumo aumentou, financiado em parte pelo aumento nos empréstimos.
O crescimento nos empréstimos foi acompanhado no segundo semestre pelo aumento nos calotes (inadimplência). Segundo o levantamento da Austin Asis com base na amostra dos primeiros 15 balanços divulgados, as perdas com créditos em liquidação e atrasos passaram de 3,53% do patrimônio líquido (recursos próprios dos bancos) no primeiro semestre de 94 para 5,11% no segundo semestre do ano passado.

Estatais vão mal
Os bancos públicos não tiveram a mesma agilidade e devem ter a rentabilidade prejudicada pelo Plano Real, diz Rodrigues.
O Banco do Brasil iniciou a safra do balanço dos bancos oficiais na última sexta-feira anunciando prejuízo de R$ 85,4 milhões no segundo semestre de 1994. Outros bancos oficiais, no caso estaduais como Banespa e Banerj, acabaram sofrendo intervenção do Banco Central.
Já os bancos privados como o Banco Boavista fechou o ano de 94 com o melhor desempenho de sua história: lucro líquido de R$ 124 milhões, representando crescimento de 439% em relação ao exercício anterior e um retorno sobre o patrimônio (recursos próprios) de nada menos que 70% no ano.
O presidente do Banco Boavista, Lineu de Paula Machado, diz que os dirigentes da instituição tinham certeza de que a rentabilidade do banco aumentaria com a estabilidade econômica.
Para isso, foram feitos investimentos na expansão das operações em todo o país. No segundo semestre de 94 foram inauguradas quatro agências, além da modernização de 14 já existentes. Para o primeiro semestre de 95 deverão ser inauguradas mais 11 agências nas principais cidades brasileiras.
André Jafferian Neto, diretor do Banco Sofisa, diz que o aumento na lucratividade da instituição esteve vinculado ao crescimento nas operações de crédito e de tesouraria (ganhos financeiros) e câmbio.
Ele acredita que as instituições que tiveram crescimento expressivo no segundo semestre de 94 não devem ter o mesmo comportamento neste primeiro semestre. A rentabilidade do câmbio deve ser menor em 1995, diz ele.
O Banco Sofisa vai ampliar suas operações a partir de março, passando a operar também no mercado de leasing (arrendamento mercantil).
Outro segredo da instituição para manter sua rentabilidade foi a de não operar com empresas do setor público.

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