São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995 |
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Analistas se dividem sobre objetivos da política do BC
FIDEO MIYA
A primeira leitura: com juros altos, o governo quer estimular os investidores a permanecerem nas aplicações financeiras para conter a expansão do consumo, complementando as restrições ao crédito implantadas desde outubro. A segunda leitura: a crise do México obrigou o governo brasileiro a baixar medidas com o objetivo de reverter a tendência de déficits na balança comercial (exportações menores que as importações) iniciada em novembro de 1994, mas sem mexer no câmbio. O caminho adotado pelo governo, de acordo com a avaliação do economista-chefe da Brasilpar Administração de Recursos, Flávio Nolasco, foi o de estimular as operações de ACCS (Adiantamentos de Contratos de Câmbio) com juros domésticos altos, extinção do compulsório de 15% sobre essas transações e o restabelecimento do prazo de 180 dias, que tinha sido reduzido para 90. O ACC representa uma venda antecipada dos dólares que o exportador irá receber por conta das suas vendas ao exterior. Na prática, permite que o exportador capte recursos pagando juros internacionais, mais baixos, e aplique o dinheiro recebendo taxas domésticas, bem mais altas. Segundo os cálculos de Walter Kuroda, diretor de planejamento financeiro do Banco Nacional, o ganho financeiro proveniente da diferença entre as taxas de juros interna e externa equivale a R$ 0,08 por dólar. Ou seja, para cada dólar cotado a R$ 0,84, o exportador acaba embolsando R$ 0,92. Nem todos no mercado endossam tais avaliações. Para o vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado Moraes, os juros permanecem elevados por conta da inércia. Ela seria causada pelo impasse num conflito entre duas correntes opostas na equipe econômica. Uma defende que o consumo deve ser combatido com um aumento cavalar nas taxas de juros. A corrente contrária argumenta que isso apenas aumentaria o custo da dívida interna do governo, agravando o déficit público sem produzir o efeito desejado no consumo. Enquanto o conflito não é resolvido, os juros permanecem no patamar em que se encontram. O diretor de investimentos do Banco de Boston, Fábio de Oliveira, aposta que a tendência é de que o BC reduza ainda mais os juros. "Há espaço para isso", diz ele, referindo-se às expectativas de que a inflação possa até ficar abaixo de 1% em fevereiro e que as pressões de alta esperadas para março podem provocar uma elevação de no máximo um ponto percentual nos índices, na hipótese pessimista. O seu raciocínio é que todos os instrumentos de política monetária para conter o consumo já foram tomados e não será um aumento de 0,5% na taxa mensal de juros (ou 6% anual) que irá alterar o atual comportamento dos investidores/consumidores. (FM) Texto Anterior: Inflação cai mais rápido que os juros Próximo Texto: Cresce lucro dos bancos após o Plano Real Índice |
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