São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Assédio sexual no trabalho abala motivação

JOSÉ VICENTE BERNARDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Calorosa nos Estados Unidos —onde as vítimas chegam a receber milhões de dólares de indenização—, a discussão sobre assédio sexual no trabalho começa a dar os primeiros passos no Brasil.
Além do recente caso do comerciante que denunciou uma oficial de Justiça em São Paulo e do sucesso de bilheteria do filme "Assédio Sexual" (leia texto abaixo), surgem os primeiros estudos aprofundados sobre o tema.
O Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo está tabulando os dados obtidos pela primeira pesquisa no gênero feita no país.
Entre agosto e outubro de 1994 foram distribuídos 7.000 questionários para secretárias de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Até o final de outubro, 461 foram respondidos (veja alguns resultados no quadro ao lado).
A psicóloga Sílvia Generali da Costa, 32, acaba de concluir a tese de mestrado "Assédio Sexual no Local de Trabalho: Problemas e Possíveis Soluções a Partir de Estudos de Casos", que se transformará em livro.
Depois de dois anos e meio de pesquisas em empresas no Rio Grande do Sul, ela concluiu que a maioria delas não tem política definida sobre o assunto. Concluiu também que a maior parte das vítimas é operária e que o agressor, em geral, é o superior imediato.
"De nada adianta as empresas falarem em qualidade se o ambiente de trabalho é ruim, se as pessoas se sentem pressionadas", diz a psicóloga, afirmando que o assédio sexual abala a motivação e, portanto, a produtividade.
Por sugestão de Sílvia, a Petropar —onde é supervisora de desenvolvimento— incluiu uma cláusula sobre assédio sexual em seu "Código de Conduta".
Quatro denúncias estão sendo investigadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC —região onde trabalham 17 mil operárias.
"As pessoas não têm coragem de denunciar e se sentem culpadas quando denunciam, achando que deram motivo para o assédio", diz Marisa Cândido, 29, diretora e membro da Comissão de Mulheres do sindicato.
"Na Inglaterra, há comitês internos para julgar ocorrências de assédio. Aqui, não há nada formalizado", diz Maria Helena Monteiro, 42, diretora da Shell Brasil.

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