São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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O DISCÍPULO

Carlos Honorato, 20

RÉGIS ANDAKU
DA REPORTAGEM LOCAL

Com apenas 20 anos, o judoca Carlos Honorato é considerado um dos melhores atletas do país.
Mesmo podendo competir na categoria júnior, Honorato tem priorizado torneios profissionais, nos quais tem obtido expressivos resultados.
Desconhecido, ele ainda busca um patrocinador que lhe garanta participação em torneios internacionais.
No ano passado, Honorato "passou o chapéu" entre amigos e parentes para disputar o Campeonato Pan-Americano, no Chile.
Conseguiu ir e, na final da categoria médio, derrotou por ippon o canadense Nicolas Gill, medalha de bronze na Olimpíada de Barcelona, em 15 segundos.
"O maior problema do judô brasileiro é a falta de patrocinador. Acho que só vou conseguir um se ganhar medalha de ouro em alguma Olimpíada", disse à Folha.
(RA)

Folha - Com quanto anos você começou a praticar judô?
Honorato - Com oito. Eu só ficava na rua, bagunçando, e aí meus pais resolveram que eu começaria a praticar judô.
Folha - Você gostava?
Honorato - Sempre gostei. Meu pai lutava boxe, caratê. Minha mãe também fazia arte marcial. Acabei entrando para valer.
Folha - Na época era incomum praticar judô alguém que não fosse descendente de japonês, não?
Honorato - Era. Eu era um dos dois negros que treinavam na academia.
Folha - O que você procurou buscar no estilo dos japoneses, os criadores do judô?
Honorato - Acho que parte do meu sucesso e do judô brasileiro se deve aos professores japoneses.
Eu admiro muito a disciplina dos mestres.
Folha - Você acha que pode ensinar alguma coisa a eles, em troca?
Honorato - Tecnicamente, não. Mas procuro mostrar interesse e muita, muita vontade de aprender com eles.
Folha - Além de vontade, você tem mostrado bons resultados...
Honorato - É. Consegui ganhar o Pan-Americano, disputado no Chile. Na final, derrotei o Nicolas Gill, canadense que conseguiu bronze em Barcelona.
Folha - Qual foi a sensação de derrotar na final de um Pan um judoca que conquistou medalha em Olimpíada?
Honorato - Eu não acreditava. A luta durou 15 segundos. Venci por ippon.
Folha - Quais são os outros resultados que você destaca na sua carreira?
Honorato - Fui terceiro no Mundial Júnior, no Egito. Tive dificuldade para ir. Por não ter patrocinador, tive que pedir ajuda a amigos, academia e família.
Além disso fui campeão nos Jogos Sul—Americanos, realizado na Venezuela.
Folha - Hoje você é considerado um dos melhores do país...
Honorato - É. Mas infelizmente não consegui me classificar para o Pan-Americano da Argentina. Perdi na final da seletiva.
Folha - Quais são os seus planos para o resto da temporada?
Hororato - Vou continuar treinando para a seletiva para o Campeonato Mundial, que acontece no Japão.
Folha - Além disso...
Hororato - Tem a Olimpíada de Atlanta no próximo ano. É o meu maior sonho.
Folha - Dá para chegar lá?
Hororato - Acho que sim. Perdi na seletiva porque tive um pouco de azar. Concentração é essencial. Você tem que se convencer de que vai ganhar.
Preciso também treinar mais, me convencer de que posso vencer.
Folha - O que mais você pretende "pôr" na sua cabeça?
Hororato - Que eu vou ser campeão mundial e medalha de ouro em uma Olimpíada. Eu tenho chance.

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