São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Aventura da Copersucar completa 20 anos

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Há 20 anos, os irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi iniciavam a aventura de fundar uma equipe brasileira de Fórmula 1 —a Copersucar.
O sonho durou sete anos, sem que a escuderia conseguisse uma vitória na categoria.
Afora os Fittipaldi, ninguém conheceu melhor a aventura da equipe brasileira que Ricardo Divila, 49, projetista da Copersucar do início ao fim.
Ele diz brincar, nos contatos que ainda tem com Wilsinho: "Tá dando aquela coceira, vamos começar a fazer de novo?"
Depois da Copersucar, Divila trabalhou em outras categorias européias. Chegou a ser consultor da equipe de F-Indy Patrick Racing, onde corria Emerson Fittipaldi.
Em 88, entrou na Ligier, como chefe de desenvolvimento. Passou pela Fondmetal e Minardi.
Hoje está na equipe Apomatox, de F-3000, com sede no autódromo francês de Magny-Cours.

Folha - Como o sr. conheceu os Fittipaldi?
Ricardo Divila - Conhecia o Wilson e o Emerson da época do kart. Nesse período, o Emerson foi para a Europa tentar correr na Fórmula Ford. Fui com ele.
No ano seguinte, voltei com o Emerson e o Wilson para a Europa. Passamos pela F-3, a F-2, até que os dois entraram na F-1. Como a gente já modificava os carros e o Wilson não estava satisfeito com o tratamento da Brabham, saímos e a opção era fazermos o carro nós mesmos.
Folha - Na época, já havia algum contato com a Copersucar?
Divila - Não. Nós começamos a fazer o carro. Eu me ocupava da parte de desenho e o Wilson, de encontrar os patrocinadores. Foi praticamente com o carro já meio feito que ele conseguiu o patrocínio da Copersucar.
Folha - Qual foi o melhor projeto? O F5-A?
Divila - Eu acho que o F4 foi o melhor. Ele e o F8, que veio numa época em que a gente já não tinha muito dinheiro. Mas, em termos de resultado, foi o F5-A. O carro não era muito bom. Por sorte, eu tinha muito conhecimento de aerodinâmica e acertamos de cara.
Folha - Qual foi a maior satisfação?
Divila - Acho que foi mesmo o segundo lugar no GP Brasil de 78. Foi um segundo lugar de verdade, ninguém quebrou na frente.
Folha - Por que, depois de subir duas vezes ao pódio, a equipe parou de evoluir?
Divila - Primeiro, a responsabilidade de ter um bicampeão do mundo correndo para a gente. Era uma equipe nova, inexperiente. E a falta de paciência. A gente mexia muito no projeto, pegava muita gente para trabalhar conosco. No fim, houve os problemas financeiros, de patrocínio.
Folha - Como as equipes inglesas, francesas e italianas encaravam vocês?
Divila - No começo, como era um carro feito na América Latina, não levavam muito a sério. Mas, com a evolução da equipe —chegamos a estar à frente da McLaren, Lotus e Tyrrell—, houve um certo respeito.
Folha - O sr. ainda tem contato com os Fittipaldi?
Divila - Sim. Com o Emerson, menos. Com o Wilson, falo uma vez por mês, mais ou menos.
Folha - Vocês falam em trabalhar juntos de novo?
Divila - De vez em quando a gente fala: "Bom, tá dando aquela coceira, vamos começar a fazer de novo?" Mas F-1, acho que não.
Folha - Ficou, então, uma sensação de trabalho incompleto.
Divila - Sim. Não ganhamos uma corrida.

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