São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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China busca solução para estatais em 95

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, mergulhada na construção de uma economia de mercado, anunciou 1995 como ano-chave para resolver um problema deixado pelo maoísmo: as empresas estatais deficitárias.
Mas o governo comunista, embora hoje namore com o capitalismo, já descartou as privatizações em massa.
Seria "uma ameaça aos órgãos vitais do Estado", sentenciou Zhu Rongji, vice-premiê e principal estrategista das reformas.
Para criar o que Pequim chama de "socialismo com características chinesas", ou seja, capitalismo com forte intervenção estatal, o governo traçou alguns cenários a fim de achar a solução para as estatais incomodadas pela competitividade da economia de mercado.
O primeiro remédio da lista, mais suave e já sendo administrado, prevê corte de subsídios, agilização do gerenciamento e investimentos em renovação tecnológica.
A lista de soluções, entretanto, guarda uma alternativa mais amarga e politicamente muito delicada para um governo que às vezes insiste em repetir os chavões do comunismo.
Trata-se de fechar ou reestruturar 100 mil indústrias e demitir 30 milhões de trabalhadores.
O golpe representaria uma revolução na China e um risco que os sucessores de Deng Xiaoping, o idealizador das reformas, não vão correr no curto prazo com medo da instabilidade.
Pesquisa realizada com mil empresas estatais mostrou que 35% delas nunca demitiram sequer um trabalhador.
Portanto, o caminho das reformas graduais prevalece sobre a terapia de choque.
Representando 26,8% das empresas na China, as estatais controlam os setores básicos da indústria, como maquinaria pesada e siderurgia.
Além disso, elas competem com as jovens companhias privadas que se concentram na produção de bens de consumo como equipamentos eletrônicos ou roupas.
A palavra de ordem nas estatais é aumentar a competitividade para se tentar evitar o naufrágio. Em novembro, o governo escolheu cem empresas para implementar um "plano-piloto" neste ano.
O roteiro prevê a adoção de mecanismos modernos de gerenciamento, redirecionamento da produção rumo às exigências de mercado e renovação tecnológica.
Um quinto das estatais chinesas ainda usa máquinas montadas antes da década de 60, constatou a pesquisa do Departamento de Estatísticas da China.
O governo promete reverter às empresas 15% dos impostos pagos para que os recursos sejam aplicados em novas tecnologias.
Outra forma de se levantar recursos recai sobre o lançamento de ações, manobra já feita por diversas companhias chinesas.
Mas Pequim não vende mais do que 50% das ações para manter o controle das empresas.
As promessas governamentais de incentivo vão longe. Empresas com bom desempenho poderão deixar de responder por certas "responsabilidades sociais".
Na China maoísta e de hoje, as companhias fornecem moradia e assistência médica, entre outros benefícios. Para um trabalhador com salário de 600 yuans (US$ 74), o aluguel sai por 3 yuans.
Assim, a China espera salvar suas estatais deficitárias criando "empresas modernas", conforme definiu Wu Bangguo, integrante do Politburo (órgão de direção) do Partido Comunista.
Mas alguns especialistas avaliam que apenas a adiada "terapia de choque" pode evitar o naufrágio dessas companhias no novo capitalismo chinês.

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