São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995 |
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Soluções dependem dos EUA
MICHAEL CLOUGH
Mas até agora o aspecto mais notável do pós-Guerra Fria tem sido o consenso no interior do establishment da política externa norte-americana em relação à necessidade de os Estados Unidos darem continuidade à mesma política internacionalista que promovem há 50 anos. Evidências disto são fornecidas por um livro recém-publicado pelo ex-alto funcionário republicano Peter W. Rodman. "More Precious than Peace - The Cold War and the Struggle for the Third World" (Mais precioso do que a paz), foi editado em Nova York por Charles Scribner's Sons. O livro trata o mundo em termos extremamente tradicionais. Rodman escreve: "Talvez o esboço de um novo sistema internacional ainda não esteja claro, mas muita coisa já é evidente. Em primeiro lugar, não faltam desafios e ameaças à segurança internacional. Em segundo, a comunidade mundial ainda é dependente da liderança americana. Seja qual for a questão em pauta, não existe solução sem os Estados Unidos.". Os melhores capítulos traçam a história da doutrina Reagan, que comprometeu os Estados Unidos a fornecerem apoio militar dissimulado a forças guerrilheiras que combatiam governos apoiados pela União Soviética. Rodman argumenta que as políticas decorrentes dessa doutrina desempenharam um papel crucial no colapso do comunismo na URSS e na concretização de acordos negociados no Afeganistão, Angola, Camboja e Nicarágua. Deixando a história de lado, a principal tese de Rodman —que os EUA acham difícil reconciliar suas convicções morais com suas responsabilidades estratégicas— é conhecida e tradicional. Foi elaborada originalmente, em linguagem mais eloquente, pelos pais do moderno "realismo" norte-americano (especialmente George Kennan, Hans Morgenthau e Robert Osgood) e o autor não atualiza seus argumentos para levar em conta as diferenças entre o final dos anos 40, época em que eles escreveram, e hoje. O livro demonstra que o fim da Guerra Fria não modificou muito a visão de mundo dos analistas tradicionais. Eles continuam a acreditar que o principal desafio que confronta o governo de Washington é decidir quando e como usar o poderio americano para influenciar outros países. Mas nenhum dos potenciais perigos mencionados por Rodman, como o fundamentalismo islâmico, deverão afetar a vida da maioria dos norte-americanos tanto quanto as transformações nos campos do comércio, imigração ou política internacional de saúde. Resumindo: embora a intervenção e o recurso à força ainda sejam questões importantes, elas já não merecem o lugar de destaque na agenda política que a maioria dos analistas tradicionais continuam a lhes atribuir. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Criada a primeira universidade 100% virtual Próximo Texto: Clube milionário está à venda Índice |
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