São Paulo, quarta-feira, 8 de fevereiro de 1995
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Educação e chuvas

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não ficou nada a dever ao horário eleitoral. Bandeira do Brasil, sol no horizonte, truques de imagem. Em vez do presidente, um locutor de boa voz, lançando um slogan.
Fernando Henrique entrou depois, sem biblioteca. Como se estivesse em campanha, disse o que pretende para a educação, no futuro. Por exemplo, "em março, vou me reunir com os governadores para definir uma política de prioridade total para o ensino básico".
Falou de um sistema de educação à distância, eventualmente com televisores nas escolas para preparar os professores. Citou outras providências, mas também vagamente e para o futuro. Nada que mostrasse merecer o alarde publicitário.
Alarde que se revelou ainda mais deslocado, diante da tragédia da enchente em São Paulo, que avançou até Belo Horizonte, também em "caos", segundo a Manchete. As cidades debaixo d'água, ocupando escolas com desabrigados, à espera da oficialização do estado de calamidade —e o presidente vai à televisão dizer que o ensino básico é "prioridade total".
Fernando Henrique tocou no assunto certo no dia errado. Mario Covas esforçou-se mais e acrescentou o lugar errado. O governador visitou escolas em Osasco para dar apoio ao esforço publicitário do amigo, chegando a citar frases inteiras, na Cultura, do locutor do programa de Fernando Henrique.
Enquanto o governador esforçava-se pelo presidente, o prefeito Paulo Maluf saía pela cidade no helicóptero do Aqui Agora. Mostrou todas as obras que fez contra enchentes e responsabilizou o governo estadual pela cheia do Tietê, com frases como "confio na sensibilidade do governador".
Na Cultura, ao vivo, o prefeito diria ainda, "tenho certeza que o governador, que é um homem sensível, não tem culpa das enchentes, mas precisa fazer o aprofundamento da calha do Tietê".
Covas, quando acordou, tratou de livrar-se da acusação ou da insinuação passando a responsabilidade para a frente. O governador, segundo a Jovem Pan, "só está aguardando autorização do ministro Pedro Malan para receber US$ 450 milhões do governo japonês".
Acrescentou Covas, "assim que liberar o empréstimo, o aprofundamento da calha é uma obra para 20 meses". A enchente sobrou, quem poderia imaginar, para o governo de Fernando Henrique.

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