São Paulo, quarta-feira, 8 de fevereiro de 1995
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Ajudante do último imperador perde direitos sobre memórias

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Pu Yi, o último imperador da China, representa o único autor de seu livro de memórias e, portanto, seu ajudante Li Wenda não deve compartilhar dos direitos autorais da obra. A decisão veio depois de uma disputa que se arrastou desde 1985 na Justiça chinesa.
O livro "De Imperador a Cidadão" serviu como ponto de partida para o cineasta Bernardo Bertolucci rodar "O Último Imperador", a premiada produção inglesa de 1984. Na China, existem também traduções em inglês das memórias de Pu Yi.
A decisão foi divulgada pela imprensa chinesa anteontem. Nem Pu Yi nem Li Wenda estão vivos. O primeiro morreu em 1967 e seu ajudante, em setembro passado. Os dois foram representados na Justiça por suas viúvas.
Li Wenda argumentava ser o "ghost-writer" das memórias, ou seja, quem de fato escreveu o livro de acordo com o relato de Pu Yi. Queria abocanhar uma parte dos recursos arrecadados com direitos autorais. Mas a versão que prevaleceu com as investigações que começaram em 1989 aponta Li apenas como "revisor" dos textos.
A última mulher de Pu Yi, Li Shuxian, reivindicou um pedido público de desculpas a ser feito pelos herdeiros de Li Wenda. Mas a Justiça chinesa rechaçou a exigência.
Pu e a enfermeira Li se casaram em 1962, depois de o último imperador deixar a prisão. Divindade transformado em plebeu pelos comunistas, Pu Yi morreu em 1967, aos 62 anos, como jardineiro-chefe do Jardim Botânico de Pequim.
Os dias pacatos do fim da vida contrastaram com outras épocas turbulentas. Pu Yi reinou entre 1908 e 1912, quando a República chegou à China com revolução de Sun Yatsen. Só que Pu Yi foi um "imperador de mentirinha", pois tinha três anos quando ascendeu ao trono na Cidade Proibida, a residência da família imperial em Pequim.
Também personificou um fantoche em sua segunda volta ao trono. O Japão ocupou a Manchúria, nordeste da China, e instalou Pu Yi como "imperador" em 1934.
A farsa acabou em 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, quando os soviéticos chegaram à Manchúria. Pu Yi passou cinco anos na Sibéria, depois voltou à China, onde os comunistas chegaram ao poder em 1949.
Quando se empenhou em reconstituir a vida de Pu Yi, Bertolucci procurou pessoas que pudessem dar depoimentos sobre a vida do último imperador. Entre eles estava Li Wenda, que se apresentou como o jornalista que teria ajudado a escrever o livro de memórias. Mas para a Justiça chinesa ele foi apenas o "revisor".

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