São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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"A Menina e o Vento" buscam a fantasia

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Imagine um personagem enorme, que ocupa todo o espaço cênico, com uma roupa espetacular, colorida em diferentes tons, conforme a iluminação do palco vai sendo modificada. É o Vento.
O personagem faz parte da peça "A Menina e o Vento", que tem texto de Maria Clara Machado (a primeira encenção aconteceu em 1963, no Tablado).
A montagem atual é dirigida por André Garolli, 27, ator (está em "Vestido de Noiva", atualmente em cartaz no Teatro da Aliança Francesa) que estréia —muito bem— na direção de teatro para crianças.
Em primeiro lugar, "A Menina e o Vento" conquista o público —as crianças assistem à peça muito concentradas— devido à presença grandiosa do Vento.
Ele é, a um só tempo, personagem e cenário (de Wagner Menegare). A iluminação e o movimento de um imenso pano no palco, em tons e ritmos certos, faz a fantasia acordar e dominar a cena.
O Vento (Fabio Torres) simboliza a liberdade no enredo. Ele é mau, a princípio. Duas crianças o despertam do sono.
Quando acorda, o Vento sopra Pedro (Elcio Rodrigues) para longe. Mas ele acaba por ceder ao desejo "fabuloso" da menina Maria (Fabiana Vajman) de andar em sua cacunda.
Além das duas crianças, uma tia Aurélia (Carmem Valéria), maluca e engraçada, deseja também passear com o Vento.
Está instalada a trama. Entram em ação, para descobrir onde está o garoto, o Comissário, dois policiais, um repórter e a mãe dos meninos (Magda Mieli), ingênua e desesperada.
É a maior confusão, completada pelas intervenções de outras tias igualmente doidas, Adalgisa e Adelaide, dentro de um figurino caricatural, que vivem a repreender Aurélia.
Porque Aurélia é parecida com as crianças. Até esfrega asas de passarinho nas costas para conseguir voar.
A mensagem central da peça é a conquista da liberdade, que deve ser imposta quase que à força, para combater a falta de fantasia do Comissário, representante explícito da repressão.
O Comissário (Alberto Chame Dwek) chega a proibir a passagem de qualquer pessoa pela cova do vento.
Essa explicação, essa tentativa de convencimento em relação à necessidade de liberdade, é a parte mais monótona da montagem.
Traduz um repertório datado, que apresenta e questiona problemas dos anos 60 e 70 no Brasil.
A criança de hoje, por exemplo, não precisa escrever 200 vezes "viva o nosso Brasil amado", como sonha Tia Adelaide (Wagner Menegare), e nem entende a referência a esse tipo de castigo.
Mesmo que o castigo faça rir. A graça e a leveza, aliás, sustentam o espetáculo.

Peça: A Menina e o Vento
Autor: Maria Clara Machado
Direção: André Garolli
Elenco: Alberto Chame Dwek, Fabiana Vajman, Fabio Torres, Carmem Valéria, Elcio Rodrigues, Magda Mieli e outros
Onde: Teatro Ruth Escobar, sala Gil Vicente (r. dos Ingleses, 209, tels. 011/251-4881 e 289-2358)
Quando: sábados e domingos, às 16h, até 2 de abril
Quanto: R$ 5

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