São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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A fonte da injustiça

JANIO DE FREITAS
A FONTE DA INJUSTIÇA

Dito com clareza, o resultado real da reforma previdenciária pretendida pelo governo será o confinamento dos aposentados na condição de párias.
O custo de vida no Brasil, comparado à remuneração do trabalho, é dos mais altos do mundo, se a esta altura não for já o mais alto. Os bons "salário médio" e "renda per capita" são vigarices estatísticas, feitas com a soma dos ganhos altos de ínfima parcela da população e dos ganhos (?) indignos dos demais, seguindo-se a divisão por todos. O resultado é a aritmética da mentira. Quem é que poderá pagar a previdência privada, como pretende o governo, para ter ao final da vida meios de sobrevivência? Os planos de saúde, com seu custo escorchante, estão aí mostrando quem alcança, no conjunto da população estas "soluções privadas".
Quando os constituintes de 88 vincularam a aposentadoria ao salário mínimo, foi para dar aos aposentados a segurança, mínima também ela, de que seus proventos não mais ficariam tão à mercê dos desmandos que os haviam igualado a uma punição à vida honrada de trabalho. Por mais malabarismos verbais que façam, o presidente e os ministros atuais não conseguem ofuscar a obviedade de que, ao pretenderem a desvinculação entre aposentadoria e salário mínimo, o que pretendem é usurpar os aposentados da mínima proteção. O limite máximo pretendido para a aposentadoria contém a mesma evidência.
Na ferocidade com que se lança contra o funcionalismo, o ministro Bresser Pereira clama pela urgente redução também das aposentadorias dos funcionários, com o argumento de que elas alcançam 13,5 vezes o que recebe o aposentado que trabalhou no setor privado. Os 13,5 são provenientes daquela aritmética da mentira. Mas vá lá que o dado tenha validade. E, então, é alto por si mesmo ou se torna aparentemente alto por que a aposentadoria dos que trabalharam no setor privado é genocidamente desumana? Todos sabem a resposta, no governo e cá embaixo.
Dizem sempre o presidente e vários dos seus ministros, não por acaso, os mais fervorosos "reformistas": "É preciso acabar com a injustiça social". A injustiça social é consequência, e isso eles não dizem. O que é preciso acabar é a injustiça governamental —de que eles, mais do que novos símbolos, fazem-se agentes.

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