São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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'Capitalismo volta a enfrentar risco da anarquia'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A crise mexicana tornou aguda a percepção do grau de descontrole a que está submetido o capitalismo contemporâneo. Por trás da rúbrica "nova ordem internacional", se esconde uma realidade que caminha na corda bamba, ameaçada pelo fantasma do caos generalizado.
Essa é a posição do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, segundo quem, "há pelo menos 20 anos, vivemos uma transformação profunda do capitalismo na direção da mais completa anarquia".
"O capitalismo desregulado está recuperando todas as suas tendências destrutivas, como o desemprego estrutural, a financeirização e a concentração brutal da renda", diz Belluzzo.
Essa tendência, segundo ele, começa a se desenhar com o colapso do sistema de Bretton Woods (conferência realizada em 1944, quando foi criado o FMI e se estabeleceu um sistema flutuante de equivalência entre as moedas fortes do mundo para reorganizar a economia do pós-guerra).
"O regime de Bretton Woods foi o que sustentou as economias nacionais organizadas em torno de um Estado regulador, centrado na idéia do bem-estar social, e, ao mesmo tempo, garantiu o sucesso do Estado desenvolvimentista na periferia do sistema. Isso acabou, está liquidado ", diz Belluzzo.
A globalização da economia vem debilitando a capacidade de decisão dos Estados. Até os anos 80, os grandes bancos foram os principais responsáveis pelo financiamento da economia. Hoje, quem dá as cartas é o mercado de capitais, volátil e pulverizado.
A diferença, diz Belluzzo, "é que, na era dos bancos, os países que quebravam sabiam ao menos com quem falar. Agora, não há mais interlocutores à vista".

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