São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Formiga 'diz' a engenheiro que água vai invadir casa

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua guerra contra as águas, o engenheiro Carlos de Souza Pinto, 61, perdeu a última batalha —mas por pouco.
"A enchente começou às 20h. Às 22h30, as formigas começaram a entrar em casa, num sinal de que a água estava vindo do subsolo. À 0h30, a água estava a quatro centímetros da entrada da casa. À 1h30, entrou, numa altura de dois centímetros."
Pinto mora há 26 anos em uma casa na rua Afrânio Peixoto, no Butantã (zona oeste). Há pouco mais de dois anos, concluiu uma grande obra para enfrentar os humores do córrego Pirajussara.
O engenheiro, que é professor da Escola Politécnica da USP, construiu um dique de 15 m de comprimento por 2 m de largura no local antes reservado à horta da casa, junto ao portão.
Colocou uma comporta de ferro e borracha na entrada. Instalou uma bomba e pôs registros para evitar o refluxo do esgoto. Impermeabilizou o muro que faz fronteira com o vizinho.
"Depois disso, não entrou água em casa em sete enchentes. Duas vezes, o esquema falhou. Mas, agora, a água entra mais devagar. Dá tempo de tirar o tapete e levantar as cortinas", diz.
Antes de realizar suas obras antienchente, Pinto chegou a procurar um apartamento para morar. "Hoje fico menos tenso quando chove", diz.
Mas nem os apartamentos estão livres das enchentes. Um conjunto de prédios de classe média em Campo Limpo (zona sul) "apanhou" das águas no último dia 2.
Há cinco anos, na tentativa de atenuar os efeitos das enchentes, o condomínio ergueu uma proteção de concreto na entrada de uma das garagens subterrâneas.
A última inundação do córrego Pirajussara atingiu os apartamentos do 1º andar e, pela primeira vez, essa garagem.
"Temos três garagens. As que não têm proteção sempre enchem. A com proteção, não. Mas na última enchente, a água atingiu dois metros de altura lá dentro", conta Filomena Lobato de Souza, 60, mulher do síndico.
Quando viram que a água ia superar a proteção da garagem, os moradores correram para retirar seus carros. Mas a água foi mais rápida e impediu o resgate.
Um morador, o PM reformado Sinézio de Jesus Neves, não conseguiu escapar e morreu afogado.
No Tatuapé, o vilão é o córrego Aricanduva. Esmeraldina e Mauro Pazin sabiam do risco quando construíram, há nove anos, o sobrado onde vivem.
Durante dois meses, eles mesmo ajudaram a aterrar o terreno, deixando a casa 1,80 m acima do nível da rua. Não foi suficiente.
O muro que protege a casa já caiu duas vezes —e a água sobe, lentamente, a rampa, até chegar no sobrado do casal. "É um desespero", diz Esmeraldina.
(MSy)

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