São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Desabamentos deixam 3.000 desabrigados na cidade

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 15 mil pessoas foram afetadas pela chuva em São Paulo nas últimas duas semanas, segundo a Secretaria Municipal da Família e Bem-Estar Social. Pelo menos 3.000 estão desabrigadas.
Em Campo Limpo (zona sul), uma das regiões mais afetadas pela chuva, com 400 desabrigados e 38 áreas com risco de desabamento, os moradores culpam a prefeitura pelos danos.
"Moro aqui há 26 anos e cada vez fica pior. Há quatro anos a prefeitura não tira o lixo do córrego Pirajussara e a água chega a subir dois metros", disse a moradora Jussara Moreira, 29.
Um funcionário da prefeitura chegou a dizer que, durante a enchente, "não se enxerga as águas do rio, só o lixo boiando".
Na favela Jardim Ibirapuera (Campo Limpo), onde três pessoas morreram soterradas, não havia funcionários da prefeitura ontem, apesar de a área estar sob risco.
"Depois que a casa do meu irmão desabou, os engenheiros interditaram a casa vizinha, mas disseram aos outros moradores que não havia perigo", disse a moradora Maria Luciene Silva Santos, 31, irmã de uma das nove vítimas de desabamentos na cidade.
Segundo Maria, funcionários da prefeitura tinham prometido ajudar a construir um muro de arrimo no local, mas não apareceram.
"Nunca veio alguém tirar o lixo que fica espalhado pela favela ou fiscalizar a área", disse.
Os moradores da favela do Umuarama, também em Campo Limpo, reclamam do descaso.
"Em seis anos que moro aqui, nunca vi a prefeitura vir retirar lixo da favela, só no tempo da Erundina", disse o morador Milton Antônio Teixeira, 26.
Teixeira trabalha como zelador e há oito dias têm faltado ao trabalho porque fica tomando conta de sua casa na favela Umuarama.
"Eles estão interditando tudo, dizendo que vai cair. Depois, vêm com as máquinas e derrubam nossas casas", afirmou Teixeira.
Ontem, equipe da administração regional de Campo Limpo estava destruindo casas que haviam sido interditadas na favela para evitar o retorno dos moradores.
"Minha família está em abrigo. Revezo com minha mulher, enquanto um fica lá, outro toma conta da casa. Não dá para ficar em abrigo, tem todo tipo de gente. Não dá para dormir", afirmou.
O administrador regional do Campo Limpo, Alcides Gotsfridt Filho, disse que 200 homens estão nas ruas fazendo o trabalho de limpeza e demolição de barracos. "Também temos técnicos em todas as áreas de risco", disse.
Gotsfridt afirmou que "não há condições de realizar obras de imediato porque é necessária a elaboração de um projeto".
Segundo o administrador, todas as áreas de risco estão ocupadas por moradores há muito tempo e os próprios barracos atrapalham a realização de drenagens ou a construção de muros de sustentação.
Gotsfridt também negou a falta de limpeza do córrego Pirajussara. "Estamos com máquinas lá periodicamente. Também contratamos uma empresa, que começará o trabalho de limpeza do Pirajussara na segunda-feira", disse.

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