São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995 |
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Flamengo nasce de uma cisão no Fluminense
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O Clube de Regatas do Flamengo, fundado há cem anos, era voltado para o remo, esporte que, na época, empolgava o Rio. O clube era uma das sensações das disputas na praia de Botafogo, com festa, prefeito e gente elegante. Os homens do remo gozavam de prestígio e viam no incipiente esporte importado da Inglaterra um jogo sem graça e até pouco másculo, como narra o flamenguista Mário Filho: "O futebol tinha, para o remador, uma delicadeza de balé. Jogadores correndo atrás de uma bola, levantando perna, dando saltinhos". É nesse ambiente esnobe e hostil que, em 1911, depois de desavenças com o clube, o time campeão do Fluminense desembarca pedindo abrigo. Sinal claro do desprezo da turma da regata pela do futebol foi a proibição de que os novos agregados usassem o mesmo modelo de camiseta dos remadores —com as listras horizontais em vermelho e preto. O primeiro time de futebol do Flamengo vestia-se com a hoje reeditada "papagaio de vintém", formada por quatro quadrados alternando as cores do clube. A melhor definição do conturbado laço uterino que une Flamengo e Fluminense é do tricolor Nélson Rodrigues, irmão de Mário —esta dupla, o mais célebre dos "fla-flus" familiares. Define ele, recorrendo a Dostoiévski: "Há um parentesco óbvio entre o Fluminense e o Flamengo. E como este se gerou no ressentimento, eu diria que os dois são os irmãos Karamazov do futebol brasileiro". O primeiro encontro dos Karamazov no Campeonato Carioca aconteceu em 7 de julho de 1912. "O País" noticiou que apesar do "rowing" (remo), reuniu-se no "field" (campo) onde se realizou o "meeting" (encontro) "numerosa, seleta e expansiva platéia". O Fluminense venceu por 3 a 2. O resultado, nota Nélson, foi fundamental para o acirramento da rixa: "Se o Flamengo tivesse ganho, a rivalidade morreria, ali, de estalo. Mas a vitória tricolor gravou-se na carne e na alma flamengas". Hoje, depois de anos de indigência do futebol carioca, um Fla-Flu volta a sacudir a cidade. O clássico que, segundo Nélson, começou 40 minutos antes do nada, continua eterno. Texto Anterior: Comichão dos 7 anos atrapalha Romário Próximo Texto: Itália volta, sob protesto, a ter futebol Índice |
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