São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Educação sob o signo da eficiência

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os administradores de empresas vieram, ao longo dos últimos anos, desenvolvendo uma cultura própria, onde o traço mais marcante é a multiplicação de gurus e de miraculosas fórmulas de sucesso empresarial.
Se afinal é verdade que o capitalismo contemporâneo coloca a inovação em primeiro plano, é igualmente digno de nota que muitas vezes ocorre a mais deslavada mistificação da eficiência, do sucesso e da modernidade.
Reengenharia, downsizing, empowerment, qualidade total são desafios reais e onipresentes. Mas o risco de transformar essas ondas de reavaliação das técnicas administrativas em ideologia é igualmente notável.
Qual o limite entre a inovação permanente das técnicas de administração e a hipótese sempre discutível de que é possível ensinar a fórmula do sucesso? Mais ainda, até que ponto as várias técnicas de administração podem ser livremente exportadas para todos os domínios de atividade se, afinal de contas, a administração de empresas não é uma ciência?
O livro Reeducação - Qualidade, Produtividade e Criatividade: Caminho para a Escola Excelente do Século 21, de Antonio Bias Bueno Guillon e Victor Mirshawka, pode não responder a essas questões, mas tem o mérito de colocá-las sem meias palavras e até com certa ousadia.
Administradores experientes da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) —que aliás é tema de vários capítulos—, eles não escondem seu projeto de aplicar à educação os princípios que nos últimos anos nortearam as várias revoluções nas técnicas de administração de empresas.
O livro é ambicioso e desigual, mas tem a virtude típica de outros consagrados livros de gurus administrativos: é extremamente estimulante. Discute-se ou mostra-se desde o pentacérebro e as distintas funções dos dois lados do cérebro até a importância de diminuir as filas de alunos no atendimento escolar, das técnicas de fazer boas anotações às possibilidades de aplicar a reengenharia à educação.
Claro que ocorre também de se descobrir, vencidas as páginas mais entusiasmadas ou provocadoras, que os autores chamam de revolução o que muitas vezes não passa de bom senso.
Assim, durante meses, a comunidade da Faculdade de Economia da Faap empreendeu uma profícua discussão na tentativa de sintetizar o elenco de objetivos a serem perseguidos. Surgiu então o que passou a ser o norte da escola: A missão da Faculdade de Economia da Faap é a de formar profissionais compatíveis com o mercado de trabalho.
Bem, não se pode realmente dizer que essa conclusão seja muito inovadora ou exclusiva da Faap, ainda que noutros tempos houvesse escolas e professores cujo norte fosse fazer a revolução socialista ou formar quadros para a burocracia estatal.
Nesse sentido, é bastante relevante o esforço dos autores para introduzir a perspectiva de tratar o aluno como um consumidor e as escolas como prestadoras de serviços. Mas o tema aparece no livro muito mais lançado ao debate do que propriamente aprofundado.
Como em toda obra que procura ser inovadora, Reeducação corre muitos riscos. O retorno, para quem estiver disposto a levar adiante a reflexão sobre os temas propostos, deverá ser proporcionalmente muito, muito grande.

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