São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Sequestro político de mito da F-1 vira filme

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O ano é 1958 e a cidade, Havana. Guerrilheiros urbanos do M-26 (Movimento 26 de Julho), ligado à revolução comunista em andamento em Cuba, realizam o mais ousado ato da guerrilha: o sequestro do pentacampeão mundial de automobilismo, o argentino Juan Manuel Fangio.
O primeiro grande sequestro da política contemporânea virou um roteiro cinematográfico, pelas mãos da historiadora e jornalista Cláudia Furiati e do cineasta Orlando Senna (diretor de "Iracema" e autor do roteiro de "A Ópera do Malandro", de Ruy Guerra, entre outros).
"Operação Fangio" será uma co-produção Cuba-Brasil, orçada em US$ 3 milhões e toda rodada em Havana. O produtor Nei Sroulevich enviou cópias do roteiro a produtoras dos Estados Unidos, França, Espanha e Argentina.
Na pesquisa histórica sobre o sequestro, Cláudia Furiati teve a ajuda de ninguém menos que um dos sequestradores, o cubano Arnold Rodriguez (leia entrevista nesta página).
"Sequestrar Fangio foi a forma que encontramos de divulgar a revolução cubana em andamento e impedir que a presença dele fosse aproveitada pela ditadura de Fulgêncio Batista", disse Rodriguez, que está no Brasil.
Fangio foi sequestrado no dia 23 de julho de 58, no lobby do hotel Nacional, onde estava hospedado, por 12 homens. Foi mantido em cativeiro por 26 horas e entregue pelos sequestradores à embaixada argentina em Cuba.
O Grande Prêmio de Fórmula 1 de Havana, do qual Fangio participaria, aconteceu sem ele. Ao ser libertado, a frase de Fangio ao funcionário da embaixada argentina foi: "Estes são meus amigos, os sequestradores".

Triângulo amoroso
"Operação Fangio" não tem, porém, ritmo nem linguagem de documentário. Caminha no limite entre a ficção e a realidade, incluindo na história um triângulo amoroso e a perseguição dos homens de Batista a Fangio.
No filme, Batista ordena que capturem Fangio morto, para culpar os guerrilheiros. "Toda Cuba comenta isto. Não é provado historicamente, mas é o que se fala", disse Orlando Senna.
O triângulo amoroso envolve Fangio, o sequestrador Julian e sua namorada, a guerrilheira Pilar.
"É uma relação difícil, porque não apenas Fangio se apaixona por Pilar. O próprio Julian meio que se apaixona pela figura do piloto", disse Cláudia Furiati.
Sob as ameaças de Batista e as pressões do sequestro em andamento, o amor dos três se torna impossível.
O personagem Julian é uma referência a Faustino Peres, líder do M-26 e mentor do sequestro. Outro personagem, Daniel, tem os traços do negociador Arnold Rodriguez.
Mas cada um dos personagens é uma mistura de pelo menos dois guerrilheiros, já que o número de sequestradores foi cortado de 12 para 6.
Segundo o produtor Sroulevich, o ator Al Pacino está interessado em viver Fangio. Antonio Banderas é o preferido dos roteiristas para o papel do líder dos sequestradores, Julian.
Sroulevich não revela os nomes das produtoras contactadas no exterior. A Folha apurou, no entanto, que Oliver Stone ("Platoon" e "Assassinos por Natureza") está interessado no projeto.
O diretor do filme ainda não foi escolhido, segundo Sroulevich. "Tudo vai depender de quem entrar na co-produção. Este é o filme ao contrário, temos o roteiro e procuramos os produtores e o diretor", disse.
Cláudia Furiati e Arnold Rodriguez estiveram esta semana em Buenos Aires, na Argentina, e obtiveram da Fundação Fangio a permissão para usar a imagem do piloto no roteiro.

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