São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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'Mundo Cão' já virou diversão

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Passemos pelo óbvio. "Spartacus" (Globo, 3h10) é a melhor superprodução já feita. "Drugstore Cowboy" (Bandeirantes, 23h30) é uma das principais entradas recentes no universo da droga e dos drogados.
Mas, e "Mundo Cão" (Gazeta/CNT, 2h30)?. Há quem, tendo visto o filme pela televisão, ache que a coletânea de fatos ora escabrosos, ora repulsivos, ora horrorosos, é antes de tudo uma diversão.
Que se reveja, então, o filme. Jacopetti corre o mundo, recolhendo esses acontecimentos. O destaque fica, claro, por conta de culturas desconhecidas para os ocidentais.
O exotismo tem uma vantagem dupla. Primeiro, nunca se sabe se o que está sendo mostrado é uma realidade captada pela câmera ou uma ficção especialmente montada para a ocasião. O peixe é vendido como documentário, em todo caso.
Segundo, desenvolve um olhar centrado estritamente na Europa. Como se todas as outras culturas do mundo fossem uma espécie de aberração ambulante.
Ou seja, Jacopetti é uma espécie de antropólogo às avessas. Claro, quem gosta do filme hoje em dia retira-lhe o caráter documental (pretensamente ou não). Retira, com isso, o estatuto de realidade das coisas vistas. A partir daí, "Mundo Cão" já pode ser visto como um exemplar do gênero fantástico.
Ainda assim, dá para pôr um freio no entusiasmo. O melhor fantástico é o que descola-se da realidade para melhor observá-la. Vendo "Mundo Cão" é difícil saber com que rima esse desfile de horrores.
(IA)

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