São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Jô da CNN ganha muito e informa pouco

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

É um enigma que só o "couch potato" (batata de divã), o típico telespectador norte-americano que passa duas ou mais horas ao dia diante do tubo catódico, pode explicar. Porque Larry King ocupa um espaço tão privilegiado na TV?
Com um salário anual que ultrapassa os cinco dígitos, o apresentador de "Larry King Live" —o único programa de entrevistas transmitido em rede mundial, pela CNN— é, sobretudo, um péssimo entrevistador.
Na semana passada, conversou com um pastor negro, chamado pela defesa de O.J. Simpson para dar, na cadeia, apoio espiritual ao ex-astro de futebol, acusado de matar a mulher.
Quem assistiu à entrevista ficou sem saber como anda o estado de espírito de O.J., se ele admitiu culpa, se está preocupado com os filhos, se fala da mulher morta, enfim, todas as informações que o telespectador esperaria ouvir de uma das poucas pessoas que hoje tem acesso ao réu.
A saber: depois de que a CNN passou a transmitir o julgamento de Simpson ao vivo, a audiência da rede aumentou 300%. Isso fez que o entrevistador, cuja marca registrada são pesados óculos de aro preto e suspensórios, conquistasse um valioso quinhão: é para ele que sobram as entrevistas com as pessoas envolvidas direta e indiretamente no caso Simpson.
Nas últimas duas semanas, o talk show de Larry King falou com juristas, amigas da vítima, a autora de um livro sobre o casamento de Nicole e O.J. e advogados da defesa. Mas, nem por isso, o espectador ficou sabendo muito mais do que aquilo que tem sido exibido sobre o julgamento no noticiário da CNN.
A overdose de comerciais, que interrompem as entrevistas a cada três minutos, aliada à falta de oportunidade jornalística do "host" impossibilitam que o entrevistado dê qualquer explanação detalhada.
O único momento em que o programa sai da superficialidade é quando entram no ar as perguntas dos espectadores que telefonam, muito mais interessantes que as do entrevistador. Além de não saber conduzir uma entrevista, Larry King também peca no quesito senso de humor.
O SBT bem que poderia fazer uma caridade à todos aqueles com TVs por assinatura e enviar urgentemente a esse chatonildo uma fita do programa "Jô Soares Onze e Meia".

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