São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Traficante impede foto de moda no Vidigal

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

A equipe de produção de uma campanha publicitária da etiqueta Forum foi ameaçada por traficantes de drogas e impedida de realizar uma sessão de fotos na favela do Vidigal, na zona sul do Rio.
O incidente, na manhã de terça-feira, poderá banir as favelas do roteiro de cenários cariocas que será utilizado na campanha.
Segundo a diretora de produção da campanha, Raquel Zangrandi, um traficante argentino conhecido como "Gringo" deu tiros para o ar, encostou um revólver no rosto do motorista de uma das kombis utilizadas pela produção e, acompanhado de outros quatro homens armados, determinou que todos saíssem do morro.
Ela disse que, depois do incidente, o presidente da Associação dos Moradores do Vidigal, Mário Sérgio, conversou com "Gringo" e conseguiu autorização para a realização do trabalho. "O problema é que ninguém da equipe, que veio toda de São Paulo, aceitou subir o morro de novo", contou.
Na kombi, além de Zangrandi, estavam os modelos Silvia Pintor e Fábio Ghirardelli e outros integrantes da equipe. O objetivo do grupo era fotografar os modelos no alto do morro tendo ao fundo o jornalista Zuenir Ventura, autor do livro "Cidade Partida".
Idealizada pela agência W/Brasil, a campanha prevê a utilização de nove diferentes cenários e personalidades do Rio —entre elas, o cartunista Jaguar, a atriz Fernanda Torres, o produtor musical e compositor Nelson Motta e o travesti Isabelita dos Patins. Todas as personalidades doaram seus cachês para o movimento Viva Rio.
Zangrandi afirmou que o morro do Vidigal havia sido escolhido por sua localização: de lá é possível avistar as praias do Leblon e Ipanema.
O incidente fez com que a produção aceitasse a sugestão de Ventura e transferisse a locação para a favela de Vigário Geral, na zona norte —esta favela fica longe do mar, mas ofereceria melhores condições de segurança (o jornalista esteve lá várias vezes durante a elaboração de "Cidade Partida").
Esta solução também está ameaçada: ainda assustados, os integrantes da equipe não querem ouvir falar em favela e a produção estuda marcar as fotos para o centro do Rio.

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