São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Bienal de Lyon quer levar escola de samba

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Bienal Internacional de Dança de Lyon terá o Brasil como tema principal na edição que se realizará no próximo ano, segundo o diretor do evento, Guy Darmet, atualmente em visita ao país.
O evento faz parte de uma série de projetos de intercâmbio entre o Brasil e a França em 1996.
"Quero que o público europeu saiba que o Brasil é muito mais do que os clichês exportados", diz Darmet, que nos próximos dias estará entre Rio de Janeiro e Salvador para conhecer o carnaval. "Ficaria muito feliz em contribuir para que os artistas da dança no Brasil saíssem do isolamento. Também espero que após a Bienal de 1996 a imprensa internacional descubra e dispense mais atenção à dança brasileira."
"Tenho a impressão de que, sob o aspecto da dança contempo rânea, não há país tão rico na América Latina quanto o Brasil", afirma Darmet. Em visita a São Paulo na semana passada, ele procurou conhecer alguns grupos paulistas.
Darmet passou um dia inteiro no estúdio do recém-formado República da Dança, onde também se encontrou com coreógrafos independentes de São Paulo —representados por Célia Gouvêa, Helena Bastos, Susana Yamauchi, João Andreazzi, Vera Sala, Umberto da Silva e Ana Mondini.
"Estes são os artistas do futuro", comentou. "Foi uma surpresa agradável descobrir a originali dade e a qualidade de invenção do trabalho que vêm desenvolvendo."
O diretor da Bienal afirma que os coreógrafos independentes de São Paulo lembram a situação da França em 1980, ano em que ele inaugurou a Maison de la Danse de Lyon, ponto de encontro na Europa e uma espécie de ONU da dança, para onde convergem atrações de todo o mundo.
"Foi a época em que surgiu na França uma geração de coreógrafos que hoje têm grande reputação. Dali em diante, houve uma explosão da dança na França, porque o então ministro da Cultura, Jack Lang, demonstrou um interesse raro. Lang não só forneceu verbas como também criou facilidades, como novos espaços, eventos, en contros para trocas de experiências etc."
"Por essa razão, me preocupo com a dança contemporânea de São Paulo, que possui verdadeiros talentos. Os coreógrafos independentes precisam de ajuda, não importa de onde venha. Caso contrário, seus esforços morrerão, como flores que não são regadas", prossegue Darmet. Ele também vai incluir a Argentina no tema da próxima Bienal. Mas, garante que a maior fatia da programação caberá ao Brasil. Apaixonado pelas manifestações populares que aqui descobriu, Darmet quer promover um desfile de escola de samba em Lyon.
"Deverá ser uma conformação menor, com cerca de 150 passistas, mas capaz de sintetizar um desfile", ele explica. "Estou em fase de reflexão sobre tudo o que tenho visto e o que verei nas próximas viagens que farei ao Brasil."
Para Darmet, o Brasil possui os melhores bailarinos do mundo. "Todas as grandes companhias, sejam da América ou Europa, possuem bailarinos brasileiros. Além do mais, a dança faz parte da vida brasileira. Aqui a dança é total e naturalmente presente no dia-a-dia", afirma. "O Brasil ainda possui esta manifestação excepcional que é o Carnaval. Na próxima Bienal de Lyon quero recontar esta história, mostrando as diferentes maneiras de viver, cantar e dançar deste território cheio de contrastes. É fascinante o sentido da festa do Brasil, um dos países mais calorosos e mais interessantes em termos humanos que já conheci."

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