São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995 |
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Siga os passos dos escritores
ÉLIDE VALARINI
A Irlanda é literária por definição. Um exemplo? Em Dublin, um motorista de táxi me perguntou o que eu fazia na vida e, ao ouvir a resposta, replicou: "Ah, Joyce... Você conhece Roddy Doyle?" e desviou para a zona norte para me mostrar a discoteca The Waterfront, onde se passa parte da ação do filme baseado no livro homônimo de Doyle: "The Commitments" ("Loucos pela Fama"). Para quem não quer entrar de imediato na contemporaneidade, o Dublin Writers Museum (Museu dos Escritores de Dublin), na 18 Parnell Square, oferece um painel da história da literatura irlandesa com retratos, manuscritos, edições raras e objetos. Outro ponto obrigatório é a catedral de St. Patrick, onde Jonathan Swift serviu como deão por mais de 30 anos. Ali você verá o vitral em sua homenagem, alguns objetos pessoais, seu busto e a placa indicando sua tumba, ao lado de Stella, para quem escreveu o famoso "Journal to Stella". Mas o clássico passeio literário mesmo é a "via-sacra" joyceana pelas ruas da cidade, tentando reconstruir o itinerário do "Ulisses". Placas comemorativas de vários episódios do livro estão no chão, indicando a pista certa. Dublin mudou e desfigurou-se, porém ainda se pode ir ao pub do Davy Byrnes, ou ao hotel Ormond (Upper Ormond Quay), onde a cada 16 de junho, o dia no qual se passa toda a ação do "Ulisses", se comemora o Bloomsday (o dia de Bloom, personagem do livro que vagueia pela cidade). Nada será mais simbólico do que a James Joyce Tower, que é uma das torres Martello, construída em 1804 para resistir a uma possível invasão de Napoleão. Em 1904, Joyce morou ali por um tempo, hóspede do cirurgião e escritor Oliver Gogarty (em parte o Buck Mulligan do "Ulisses"), que a alugou das Forças Armadas por oito libras ao ano. Desde que Joyce fez dela o cenário do primeiro capítulo do Ulisses, o nome Martello mudou para Joyce's Tower e, desde 1962, a torre abriga o James Joyce Museum, com cartas, documentos, objetos pessoais, livros e fotografias do autor. Fica em Sandycove. Se não quiser enfrentar todos esses lugares, siga o conselho do próprio Joyce e vá até Trinity College (College Green) ver o livro de manuscritos iluminados que resultou da fusão da arte céltica com o cristianismo. Seus desenhos labirínticos são de uma complexidade delicada e original. Segundo Joyce, se você quiser realmente entender o "Ulisses" terá que se deter atentamente nesses arabescos. Texto Anterior: Festivais marcam o início da primavera Próximo Texto: Castelos da região têm banquetes medievais Índice |
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