São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Roteiro familiar para o caminho das pedras

CAIO TÚLIO COSTA
DIRETOR DE REVISTAS

Passei uma semana no Club Med, o do Rio das Pedras, a 40 minutos de Angra. Estive lá na condição de mortal comum. Vivi o clube como qualquer cliente, sem as atenções especiais que os jornalistas recebem quando convidados para testar resorts desse tipo.
Levei meus dois filhos menores: Pedro, 7, e Guilherme, 3. Chegamos de carro por volta das 17h, depois de quase sete horas de viagem desde São Paulo via Carvalho Pinto, Ubatuba e Parati.
Uma "gentil organizadora", a G.O., nos recebeu com suco de tangerina e levou ao quarto num dos conjuntos, o Solar Itanhangá, número 9, código que o Gui decorou imediatamente. Uma cama normal para mim, outra para o Pedro e a de armar para o Gui. Banheiro bom, cadeira, armário, aparador e mais nada.

Longe do quarto
Percebi de imediato que o quarto foi pensado para que você não fique nele —pelo menos com as crianças. Sem telefone e televisão, frigobar vazio. Eles querem os hóspedes (exceto, evidentemente, o pessoal em lua-de-mel) longe dos quartos, aproveitando o potencial de lazer e culinário do clube.
Bom, aportamos e iniciamos a exploração do local. No domingo, quando chega a maioria dos novos visitantes, ficam todos andando por butiques, bar, piscinas, quadras, praia, estádio, pontes, as tais pedras, todos olhando meio de lado, ressabiados, sem saber direito como funciona a coisa. Mas tem até palestra para os novos.
Foi assim que fui "matricular" os meninos no miniclube. A criançada fica por conta deste "miniMed" o dia todo. Pode chegar às 8h, sai às 18h para um bom banho e volta às 19h30 para o jantar —os G.O.s cuidam de tudo até acabar um filme, em vídeo, às 22h.

Mosquitos e piratas
Existem três grupos de crianças: o dos "mosquitos" de quatro a seis anos; o dos "piratas" de seis a dez e o dos "kids", maiores de dez. Realizam todas as atividades esportivas, além de gincanas e animações. No final todos ganham medalhas.
Os pais se desesperam quando desconfiam que a criança vai esquiar no mar, mas sossegam quando vêem um G.O. na prancha, segurando as pontas. A molecada passeia pelas instalações e pode-se ouvi-la andando e cantando coisas como "ú-tê-rê-rê-ê" ou algo do tipo "pirata não tem dente, sem dente mas contente". Fazem até show e o apresentam para a platéia de hóspedes —o clube cheio comporta mais de 700 pessoas. Meu Pedro chegou até a dançar tango.
Já o Gui, com três anos, podia ficar com os "mosquitos" somente com autorização da chefe do miniclube. Ele decidiu, entretanto, que deveria ficar com os "piratas", maiores. E ficou. Convenceu a G.O. definindo-se mascote de "pirata": "eu sou um a-ni-mal".

Férias para os pais
Os pais podem praticar os esportes náuticos (vela, esqui, caiaque, natação), jogar futebol, squash, vôlei, arco-e-flexa, fazer musculação ou hidroginástica, beber chope o dia inteiro, ler na sombra, jogar damas. Não faltam atrações, gincanas, joguinhos, competições (a de salto em altura é na piscina) e diversões.
O clube é administrado num estilo "francês", psicologicamente bem definido. Vou dar o caminho das pedras: o francês costuma punir de forma sutil quem foge das regras, das mínimas regras. Assim, se você perdeu o almoço no restaurante principal, que funciona com hora marcada, pode comer, até as 15h, num outro restaurante, mais longe, menor.
E ali o serviço é pior. A moça embaça para arrumar a mesa, o chope acaba às 14h59 sem choro, o moço dos refrigerantes demora para aparecer. Detalhes que revelam um jeitão de ser.
Mas se você andar na linha, cumprir tudo o que lhe propõem, saiba que o Med é mesmo um mundo à parte e divertido.

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