São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Até Momo chega atrasado à festa baiana

EDSON FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Se você pretende correr para aproveitar a totalidade do Carnaval baiano, saiba que seu esforço será infrutífero. O começo da festa, em Salvador pelo menos, você e o rei Momo já perderam.
O povo baiano leva o Carnaval tão a sério, que qualquer um dos inúmeros ensaios dos blocos e trios elétricos vira uma festa de causar inveja a qualquer visitante, digamos, paulista.
E os turistas estrangeiros já estão tomando conta dos quartos de hotel, metros quadrados de praia e mesas de restaurante na capital baiana.
No penúltimo ensaio do bloco do Olodum para o Carnaval, realizado terça-feira da semana passada, estava muito fácil ouvir o sujeito ao lado se referir ao baticum com adjetivos como "wonderful", "sehr gut" ou "hermoso".
Fora das quadras onde os blocos ensaiam, companhias de cerveja patrocinam shows que servem como tira-gosto perfeito para o prato principal da festa, que começa a ser servido amanhã à noite.
A Casa do Carnaval —órgão ligado à administração municipal e responsável pela organização da festa— resolveu tomar algumas medidas que, apesar de cosméticas, vão ajudar a diminuir a imagem de falta de higiene associada ao comércio ambulante local.
Todas as barracas de alimentos terão lonas de cores similares e algumas serão totalmente brancas, em homenagem às entidades negras como os Filhos de Gandhi.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública preparou um esquema com vários postos e policiais espalhados pelas principais avenidas de Salvador.
Segundo o órgão, o turista que não ostentar objetos de valor vai ter poucos problemas durante o Carnaval.
A rigor, em meio à inflação de atrações, o problema maior vai ser decidir entre correr atrás do trio elétrico da Daniela Mercury ou ver a concentração do Olodum. Assistir o desfile do Araketu ou tentar descobrir onde Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Gal Costa podem estar dando uma canja.
Quem deixou os acertos de viagem para a última hora vai encontrar dificuldades para participar plenamente do Carnaval baiano.
As vagas nos hotéis estão desaparecendo. Resta a opção dos serviços alternativos. Quase todos os vôos para Salvador estão lotados. Lugares em ônibus dependem de desistências.
Chegando a Salvador, o problema passa a ser a obtenção dos uniformes para desfilar nos blocos.
Jornais baianos trazem anúncios de cambistas vendendo mortalhas, abadás e fantasias a R$ 500, quando o preço normal chega no máximo a R$ 330.
A Folha apurou que os governos municipal e estadual investiram cerca de R$ 5 milhões para organizar a festa deste ano.
Em relação ao ano passado, esse investimento é 17% menor. Mas, segundo o superintendente da Casa do Carnaval, Ary da Mata, isso não vai resultar em queda da qualidade do Carnaval baiano.
"Nós profissionalizamos a estrutura da organização do Carnaval, o que acabou reduzindo os custos e gerando uma festa até melhor", diz o superintendente.

LEIA MAIS
Sobre Carnaval em Salvador nas págs. 6-15 e 6-16.

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