São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Vida volta ao normal e comércio fatura

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

A Irlanda do Norte vive hoje um momento de euforia e expectativa em relação ao conflito armado envolvendo católicos, protestantes e o Exército britânico.
Quase seis meses depois do anúncio da trégua do IRA (Exército Republicano Irlandês), os moradores esperam que desta vez os políticos substituam os grupos paramilitares e encontrem uma solução para o futuro da região.
O cessar-fogo do católico IRA, que luta pelo fim do domínio britânico na Irlanda do Norte, entrou em vigor no dia 1º de setembro do ano passado.
Os protestantes unionistas, que querem a permanência da região como parte do Reino Unido, seguiram o mesmo caminho em outubro, quando também anunciaram o fim da luta armada.
Em dezembro, representantes do governo iniciaram negociações com o Sinn Fein, braço político do IRA, e com líderes da comunidade protestante.
Os sinais de que a trégua pode se tornar definitiva mudaram o cotidiano da população da Irlanda do Norte, principalmente em Belfast, ponto mais atingido pela guerra entre os grupos.
O centro comercial da cidade, que muitos antes evitavam com medo de atentados, voltou a ter uma vida normal. As vendas no último Natal tiveram um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
No dia 15 de janeiro, Belfast teve a mais visível mostra de que os tempos mudaram. Desde esta data, os soldados do Exército britânico não mais patrulham as ruas da cidade durante o dia, o que prova que o perigo de novos ataques terroristas é hoje bem menor.
Os governos do Reino Unido e da República da Irlanda discutem agora um cronograma para o processo de paz, que deverá culminar com um plebiscito para definir se a Irlanda do Norte será governada por Londres ou Dublin.
A grande dúvida é saber se a consulta será feita apenas no norte da ilha, como querem os unionistas, ou em toda a Irlanda, como defendem os republicanos.
Mesmo antes da solução final para o conflito, a região deverá receber investimentos da União Européia e dos Estados Unidos para o seu desenvolvimento.
Um encontro em Belfast, no final do ano passado, lançou uma campanha para atrair investidores. Muitos mostraram-se convencidos de que a Irlanda do Norte tem um grande futuro econômico, por já ter boa infra-estrutura e uma mão-de-obra qualificada.
Apesar do otimismo, o fantasma da violência continua presente. Nenhuma organização paramilitar entregou suas armas ou desmontou sua estrutura interna. Os terroristas continuam prontos para voltar a agir se o processo de paz fracassar.
Muitas pessoas ainda são vítimas de "punições" por membros do IRA ou de grupos unionistas, que agem como uma polícia paralela intimidando e espancando moradores.
O fim dessas práticas e a entrega das armas só deverão acontecer com o sucesso das negociações, que já tiveram bons resultados, mas ainda têm um longo caminho a percorrer.

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