São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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"Calouros" decidem agitar o Congresso

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os deputados de primeiro mandato tentam disputar espaço com as estrelas do Congresso e fugir do anonimato. Para escapar dos vícios da Câmara, os deputados querem acabar com as votações simbólicas (quando há acordo dos líderes e o deputado não participa das decisões) e votar nas sessões.
Nestes primeiros dias de funcionamento da Câmara, a principal reclamação dos novatos é não poder votar nem falar nas sessões. Os líderes, na prática, decidem sobre as principais questões que são votadas.
O primeiro movimento organizado dos calouros contra o processo de votação marcou uma reunião para o dia 7 de março. Eles querem propor mudanças nas normas de funcionamento da Câmara para diminuir os poderes dos líderes. "O movimento é de todos que querem trabalhar. Não passamos procuração para os líderes decidirem por nós", afirmou Herculano Anguinetti (PSDB-MG), 34, um dos coordenadores do grupo.
"Nós somos a maioria e temos que impor um novo ritmo nos trabalhos da Câmara", afirmou Carlos Magno (PFL-SE), 42. Para ocupar os espaços, os novos deputados começaram o mandato aprendendo a negociar. A distribuição dos membros nas comissões permanentes obrigou a troca de cargos entre os parlamentares.
O único deputado do Partido Verde, Fernando Gabeira (RJ), 44, não conseguiu vaga na comissão de Meio Ambiente. "Me deram um lugar na Comissão de Finanças. Tive que negociar a troca com um colega", afirmou.
Para Gabeira, o deputado rebelde é discriminado. "Eu sei que não será fácil enfrentar o esquema já montado, mas estou aqui para trabalhar, não para ficar olhando parado", disse o parlamentar verde.
O deputado se inscreveu para falar na sessão e foi informado que seu horário seria às 14h de sexta-feira de Carnaval, quando não haveria ninguém para ouvi-lo. Criticou a negociação na distribuição de gabinetes e ficou com um no Anexo 3, menor e sem banheiro.
Segundo Gabeira, foi discriminação. "Eles querem dizer que enquanto um deputado for rebelde vai comer o prato mais amargo que tiver. Se quiser transitar por aqui terá que entrar no esquema", afirmou.
Os deputados Wigberto Tartuce (PP-DF), 47, e Severiano Alves (PDT-BA), 52, ambos no primeiro mandato, conseguiram um espaço maior. Se elegeram presidentes das comissões do Trabalho e de Educação, respectivamente. No primeiro dia de trabalho, Tartuce reclamou: "Poucos deputados apareceram. O vice-presidente não deixou seu gabinete nem para assinar o livro de presença.".
Para não ser massacrado pelo esquema dos líderes, o deputado Beto Lélis (PSB-BA), 38, ex-menino de rua, disse que passa todas as noites estudando os projetos e o Regimento Interno da Câmara.

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