São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Escolas duelam com ilustres

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Além de musas seminuas, personagens ilustres estão ajudando as escolas na batalha pelo título de campeã carioca. Na primeira noite, a disputa será entre a Beija-Flor e a Portela.
A cantora lírica Bidu Sayão, 90, e o compositor Paulinho da Viola, 52, são os dois nomes da noite.
Bidu é o tema do enredo da Beija-Flor, "Bidu Sayão e o canto de cristal". Paulinho volta à Portela depois de quase 20 anos afastado.
Mesmo que não leve o título quando voltar para os Estados Unidos, onde mora, Bidu já terá conquistado a torcida da Beija-Flor, de Nilópolis.
Não faltaram aulas na quadra da escola para explicar aos sambistas a importância de Bidu. "Sentei com as crianças para contar sua história", diz a cantora lírica Maria Lúcia Godoy.
Um coro clássico e cinco violinistas da Orquestra Sinfônica Brasileira no Sambódromo acompanharão o desfile.
A Portela, com o enredo "Gosto que me enrosco" —sobre a história dos Carnavais cariocas—, não promete inovações. A surpresa é o retorno às suas tradições.
Personalidades históricas da escola estão de volta. "Ainda não concordo com a estrutura dos desfiles, mas resolvi voltar este ano", diz Paulinho da Viola, a "novidade" da Portela.
"Voltamos a ser uma grande família", diz a passista Marisa Marcelino de Oliveira, 52, a Nega Pelé, que desbancou Luísa Brunet no posto de madrinha da bateria.
A Acadêmicos do Salgueiro não traz grandes personagens, mas com um enredo de bibliografia sofisticada tenta mostrar que quando o Tratado de Tordesilhas foi assinado, os portugueses já haviam descoberto o Brasil.
Na relação de 24 livros consultados —todos estrangeiros—, o carnavalesco Roberto Szaniecki cita títulos como "Histoire du Costume en Ocident de L'antiquité à Nos Jours".
Menos sofisticado é o tema da São Clemente, um enredo ufanista que lembra a vitória na Copa do Mundo. A virada do carnavalesco Luis Fernando Reis, conhecido por enredos críticos, dá o tom do Carnaval 95. "A hora é de esperança, por isso o enredo otimista."
O carnavalesco Lucas Pinto, da Acadêmicos do Grande Rio, preferiu buscar na enciclopédia Barsa —entre outros livros— a inspiração para criar "Estória para ninar um povo patriota".
No enredo, um rei chamado Amazonas tem uma filha, a princesa Manaus, invejada pela rainha Inglaterra. O delírio prossegue até a princesa conhecer o príncipe Tecnologia. O resultado do encontro? Um pimpolho chamado Zona Franca de Manaus.
Joãosinho Trinta, como sempre, tentará ser diferente: sua Viradouro tem como personagem principal o pintor francês Debret.
As outras escolas que evitaram o nacionalismo-carnavalesco são: Mocidade Independente de Padre Miguel, que vai enaltecer várias religiões; a Estácio de Sá, que homenageia o centenário do Flamengo; a Império Serrano, que falará sobre a passagem do tempo, e a Unidos de Villa Rica, que contará a história da tecelagem.

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