São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Pacote argentino fará a inflação subir

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O pacote fiscal argentino deverá provocar elevação dos aluguéis comerciais e aumento da inflação ao tributar os rendimentos de aluguéis comerciais. Os proprietários de imóveis avisam que repassarão o imposto para o valor dos aluguéis.
A reforma tributária, enviada ao Congresso na última segunda-feira, prevê uma tributação de 18% do valor integral de qualquer aluguel comercial pelo IVA (Imposto sobre Valor Agregado).
Isto quer dizer que os proprietários de imóveis alugados para empresas, bancos e estabelecimentos comerciais, incluindo serviços, passariam a recolher o IVA.
Na prática, esta medida eleva os custos para atividades comerciais e industriais que precisem pagar aluguel, atingindo especialmente pequenas e médias empresas.
O ministro da Economia, Domingo Cavallo, omitiu a medida na reunião com 500 empresários, na segunda-feira, para divulgar o pacote fiscal. Ontem, ele cancelou reunião com associações de pequenas e médias empresas.

Apoio
O presidente Carlos Menem foi ontem ao Congresso pedir apoio para a aprovação do pacote fiscal. Recebeu críticas do próprio partido (Justicialista) e enfrenta descontentamento das Forças Armadas pelo corte salarial de até 15%.
O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general Mario Cándido Díaz, atacou o corte de salários. Disse que os militares tem um soldo baixo, o que será agravado, segundo ele, com a redução imposta pela novas medidas de contenção de gastos.
O mercado financeiro continua reagindo mal ao pacote. Os juros nas operações interbancárias atingiram o recorde de 20% ao ano.
A Bolsa de Valores de Buenos Aires continua com a trajetória de queda. O pregão de ontem registrou uma baixa de 5,49%. Nenhuma ação teve alta. O volume de negócios permanece mínimo- pouco mais de US$ 20 milhões.
A CGT (Central Geral dos Trabalhadores) divulgou nota protestando contra a "inadmissível" redução dos salários.
Ontem, houve choque entre aposentados que protestavam contra o pacote em frente ao Congresso e agentes da Polícia Federal.
Menem discursou durante 45 minutos na abertura dos trabalhos legislativos. Em campanha eleitoral, Menem fez balanço positivo dos quase seis anos de governo.
Enquanto Cavallo quer conter os gastos públicos, Menem anunciou um ambicioso Plano Quinquenal (95 a 99) com investimentos superiores a US$ 55 bilhões.
"Estamos dispostos a fazer o que for necessário para preservar o crédito público e externo. Não haverá inflação nem desvalorização (do peso argentino), mas uma profunda reforma do Estado e combate à evasão fiscal."
O senador Antônio Cafieiro, uma das principais lideranças do Partido Justicialista no Congresso, criticou Menem por não abordar no pronunciamentos os principais problemas dos argentinos, como o aumento de desemprego e o baixo valor das aposentadorias.
O principal adversário de Menem nas eleições de maio, o senador José Octávio Bordón, candidato a presidente pela Frepaso (Frente País Solidário), acompanhou o discurso no plenário.
Bordón disse que avisou, em outubro do ano passado, que o plano de conversibilidade estava em risco e que era preciso realizar cortes orçamentários.

Evasão
O governo desencadeou ontem uma operação de cobrança de débitos fiscais. Um dos principais alvos é a indústria automobilística. De acordo com o Ministério da Economia, este setor deve ao fisco mais de US$ 700 milhões. As indústrias deixaram de recolher o IVA sobre os veículos.

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